Artigo - Teologia da Cruz

on sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

 TEOLOGIA DA CRUZ x JUSTIFICAÇÃO DO SOFRIMENTO

Pe. Luiz Fernando de Lima

Vive-se hoje numa sociedade extremamente simbólica. Para tudo se tem um símbolo; basta olhar ao lado para perceber que se está rodeado de símbolos em todas as direções. Ao falar em símbolos traz-se a ideia de aquilo que, por princípio de analogia, representa ou substitui alguma coisa; também, pode-se dizer que é uma figura convencional elaborada expressamente para representar uma coisa, emblema ou insígnia; enfim, fala-se daquilo que tem um valor evocativo, “mágico” e místico.
De todos os símbolos conhecidos, parece ser a cruz o mais antigo que se tem conhecimento, mais remoto até mesmo que o quadrado. Além disso, a cruz é o símbolo mais usado pelos povos, uma vez que universalmente representa mediação e mediador. Longe do que comumente se imagina a cruz não é uma invenção cristã. Diz Anselmo Grunn: “O cristianismo não descobriu a cruz. Ela está presente como símbolo em todas as religiões”.
Não se sabe com precisão quando a cruz surgiu. Todavia, parece ter ela sua origem primeiramente entre os persas na antiguidade pré-cristã. Para este povo, a terra era um lugar sagrado e depositar nela um cadáver era algo abominável; para superar essa problemática passaram a colocar os defuntos na cruz. Após esse primeiro uso, a cruz passou a ser entre os persas mesmos um instrumento de tortura e de castigo.
Da Pérsia, o uso da cruz passou logo em seguida à Grécia e depois para Roma que consagrou seu uso, sendo conhecidos como um dos povos que mais aplicaram esse suplício aos seus inimigos e adversários. Conhece-se pelo menos três tipos de crucifixão: a empalação; a suspensão no madeiro (depois da morte); e a suspensão no madeiro (antes da morte). A crucifixão romana mais “famosa” foi a de Jesus de Nazaré (suspensão no madeiro antes da morte), que perpassa os séculos e ainda hoje, é símbolo não de derrota ou frustração entre os cristãos, mas de vitória e de amor manifestado sem limites a todos os pecadores.
É interessante perceber que desde o início a cruz não foi entendida como incitadora ou como justificativa ao sofrimento. Nos três primeiros séculos do cristianismo, entre os Santos Padres, a cruz é compreendida analogamente à Arca de Noé, à lenha do sacrifício que Isaac levou ao monte Moriá, à escada de Jacó, à vara de Moisés e à serpente de bronze, para citar apenas alguns exemplos. Nota-se, assim, que em nenhum momento faz-se referência ou instiga-se ao sofrimento.
No século IV, com o Edito de Milão, para representar a união Império e Igreja, a cruz torna-se o símbolo oficial desse consórcio. Em seu nome são cometidas atrocidades. A cruz deixa de ser sinal de amor ilimitado e passa a imagem do poder de dominação sobre outros povos. Tenha-se em mente as Cruzadas cujo principal objetivo era libertar os lugares sagrados dos inimigos da cruz de Cristo. Tem-se a partir daí um olhar muito expressivo sobre a cruz, que ganha destaque sendo venerada e inspirando piedade e até mesmo sendo usada para legitimar certo conformismo diante de realidades realmente desalentadoras. Já o Concílio Vaticano II (1962-1065) desloca um pouco o olhar da cruz para o Mistério Pascal, de modo especial para a Eucaristia e a Ressurreição.
Não obstante a tudo isso, é preciso dizer que a cruz sempre esteve presente na história da espiritualidade cristã. Mesmo perante compreensões equivocadas, a cruz sobreviveu aos séculos e essa frase de Lutero parece resumir o que se disse até aqui: “A cruz é nossa única Teologia”.
Falar de cruz hoje não é uma tarefa muito fácil, isto porque, em muitas ocasiões ela é usada como manipulação ideológica ou justificação da humilhação. Situações assim são encontradas no dia-a-dia quando ainda em nome da cruz do Senhor muitos são colocados em circunstâncias deprimentes e indignas. É uma espécie de sadomasoquismo velado, onde se sofre e se faz sofrer, em nome do “sofrimento de Cristo”, mesmo aqueles que se ama. É estapafúrdia a realidade na qual, em nome da cruz, se opta por viver na pobreza não evangélica estimulado por outrem, quando se flagela o próprio corpo, etc.
Diante de situações assim, é evidente que a compreensão do que de fato a cruz representa está deturpada. Como se viu, ela sempre carregou consigo uma ideia positiva e nunca negativa. Mesmo quando pareceu ser o fim, a derrota total, a aniquilação de toda esperança de renovação, Deus fez surgir dela um sinal de vida: amor manifestado incondicionalmente por cada ser humano, redimindo dessa forma, a humanidade pecadora.

Por fim, pergunta-se: é possível falar ainda hoje de cruz num mundo de crucificados? Como se viu, a tarefa é árdua e exige paciência e reto conhecimento. No entanto, essa realidade torna-se mais fácil quando se entende que pregar a cruz é falar de seguimento a Jesus, seguimento verdadeiro e comprometedor em transformar esse mundo num lugar mais humano e fraterno. Isso é possível, uma vez que não se justifica os crucificados de hoje com a cruz de ontem, mas se associa a eles a cruz redentora do Senhor e vice-versa. A cruz do Senhor não é sinal do mal ou sadismo que veio do alto, mas expressão do amor do Pai que ama a todos indistintamente.      



Histórico

on quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

RELATO HISTÓRICO DO SEMINÁRIO DIVINO MESTRE

Seminarista Alex de Oliveira Nogueira

Em 1979 Dom Pedro Filipak conseguiu a licença com Dom Carmine Rocco, núncio apostólico do Brasil, para abrir o curso de Teologia na diocese de Jacarezinho. O núncio pronunciando-se favorável disse as seguintes palavras: “A notícia encheu-me de alegria porque testemunha o grande zelo apostólico e o empenho em assegurar a continuidade do ministério sacerdotal na Diocese”.
Em fevereiro de 1979 o Seminário Divino Mestre estabeleceu-se junto ao prédio do Seminário Menor da Assunção e contava com oito estudantes de teologia e nove estudantes de filosofia, tendo como reitor o Pe. Apparecido Rodrigues Staut. Esse ano foi de muitos desafios, mas principalmente de vitórias, os primeiros seminaristas colheram neste tempo de convivência os frutos da vida comunitária, espiritual e intelectual.
A pedido de Dom Pedro Filipak, Dom Conrado começou a trabalhar com as vocações e o Seminário Divino Mestre foi transferido para a casa de encontros Rainha da Paz. A casa foi inaugura no dia seis de março de 1980. Dom Corando foi o segundo reitor do Seminário, função que exerceu de 1980 a 1987, seu sucessor foi Pe. Mauro Aparecido dos Santos, que esteve no cargo entre 1988 a 1991, hoje é arcebispo de Cascavel.
O atual prédio do Seminário Divino Mestre começou a ser construído no dia 19 de outubro de 1985. A construção caminhou rápido e, em 1986 começou a gradativa ocupação das alas que aos poucos surgiam. Depois de muitas lutas, derrotas e conquistas, o atual prédio do Seminário foi inaugurado no dia três de maio de 1989.
Durante os anos de 1992 a 1996, sucedendo Pe. Mauro, o reitor do Seminário foi Pe. Tobias Ferreira Rosa. Entre 1997 a 2001, Pe. Elizeu Moraes Pimentel, exerceu a função de Reitor, sendo que tornou-se bispo Coadjutor de Paranavaí e faleceu em 2003. Entre 2002 a 2005 o reitor foi Pe. Delcino Rafael, já o Pe. José Hédio dos Santos foi reitor entre 2006 a 2007 e atualmente o reitor é Pe. José Antônio Campos.
Em 2001, chegou a nossa diocese o novo Bispo, Dom Fernando José Penteado, que assumiu com muita garra a missão de pastorear esta porção do Rebanho do Senhor. A seu pedido foram separados os cursos de Teologia e Filosofia, que eram ministrados todos no prédio do Seminário Divino Mestre. Assim foi fundado o Seminário de Filosofia Rainha da Paz na antiga casa de encontros da diocese no ano de 2002.
Até o ano de 2012 o Seminário Divino Mestre já ofereceu para a Igreja 126 clérigos, entre diáconos, padres e bispos, tanto para a Diocese de Jacarezinho quanto para diversas outras do Brasil.
Desde 1979, 304 alunos residiram nesta casa de formação, a qual conta atualmente com 14 seminaristas residentes e 4 seminaristas da Diocese de Ourinhos, que apenas cursam a Teologia.