Teologia Moral Fundamental - Veritatis Splendor

on sábado, 30 de junho de 2012

SEMINÁRIO DE TEOLOGIA DIVINO MESTRE
Teologia Moral    
Aluno: Rogério de Azevedo Silva
Série: 1° Ano de Teologia
Professor: Pe. Luiz Fernando de Lima
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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA ENCÍCLICA

A carta Encíclica “Veritatis Splendor”, escrita pelo sumo Pontífice, o Papa João Paulo II, é o documento de número dez publicado em seu pontificado no dia seis de agosto do ano da graça do Senhor de um mil novecentos e noventa e três, na festa da Transfiguração do Senhor, após um trabalho árduo de seis anos da sua elaboração até a sua publicação.
O documento tem por objetivo primordial oferecer as bases imprescindíveis para um ensinamento correto acerca da moral da Igreja Católica, mostrando os pontos fundamentais e doutrinários, uma vez que tais fundamentos corriam riscos de serem deteriorados ou até mesmo negados, por teorias éticas contemporâneas, algumas delas com tendências subjetivistas, ameaçando, assim, a compreensão da moral Católica.
Situando-se no contexto de crise de certa difusão no campo psicológico, cultural, social, religioso, é que surgem algumas objeções aos ensinamentos tradicionais da Moral Católica, nascendo diversas correntes éticas, baseadas em concepções antropológicas que norteavam seus princípios éticos e morais de modo subjetivista.
Enfim, a Encíclica assinala alguns princípios fundamentais que precisam ser retomados e que foram apresentados por diversos estudiosos no campo ético e moral que se opunham ao ensinamento fiel da Igreja. Desse modo, tal documento permite-nos mergulhar no ensinamento oficial da Igreja, assentado sob a Sagrada Escritura e a Tradição Apostólica. 

BIOGRAFIA DO AUTOR

Karol Wojtyla, nasceu em Wadowice, uma pequena cidade, aos 18 de maio de 1920.  Desde 1942, quando sentiu uma vocação para o sacerdócio, começou seus estudos no seminário clandestino de Cracóvia. Ordenou-se presbítero da Igreja no dia 01 novembro de 1946. Naquela época, durante as férias, ele exerceu o seu ministério pastoral entre os imigrantes poloneses. Em 1948 voltou à Polônia e foi vigário de diversas paróquias de Cracóvia e capelão dos universitários até 1951. Em 04 julho de 1958, pelo Papa Pio XII, foi nomeado Bispo titular de Olmi e Auxiliar de Cracóvia. Ele foi ordenado bispo em 28 de setembro de 1958. Em 13 de janeiro de 1964, foi nomeado Arcebispo de Cracóvia pelo Papa Paulo VI, que fez dele um cardeal em 26 junho 1967. Além de participar do Concílio Vaticano II (1962-1965), com uma contribuição significativa para a elaboração dos vários documentos, tomou parte nas assembleias do Sínodo dos Bispos antes de seu pontificado.
Logo após a morte do venerável Papa João Paulo I, os cardeais reunidos em conclave elegeram-no Papa em 16 de outubro de 1978, tomando o nome de João Paulo II, iniciando o seu ministério como sucessor do Apóstolo Pedro. Seu pontificado, um dos mais longos da história da Igreja, durou quase 27 anos, exercendo o ministério Petrino com incansável espírito missionário. O sumo Pontífice Papa João Paulo II, morreu em 2 de Abril de 2005 na cidade de Roma.

RESUMO DA ENCÍCLICA: O ESPLENDOR DA VERDADE

O primeiro capítulo da Encíclica tem por finalidade apontar Jesus Cristo como uma resposta para a questão moral, uma vez que Ele é a “imagem do Deus invisível” (Cl 1, 15). Partindo dessa premissa de que à luz da Revelação, ou seja, da Encarnação do Verbo aquilo que era incompreensível torna-se compreensível, pode-se dizer que a verdade sobre o homem se esclarece, de modo que ele pelo seu juízo não pode construir uma moral segundo o seu arbítrio, mas segundo a Revelação. Na pergunta que o jovem faz no evangelho e que o Santo Padre retoma neste documento “Mestre que devo fazer de bom para entrar na vida eterna? Jesus responde: Cumpre os mandamentos.” (Mt 19, 16), percebe-se que a liberdade integral do homem está no fato de que a verdadeira realização da lei moral se encontra em Deus. Para que o homem possa chegar a sua autorrealização faz-se necessário vivenciar os mandamentos, não como norma, mas como uma placa que aponta para o destino de chegada, a verdade.
No capítulo segundo, o Santo Padre chama a atenção para algumas tendências atuais no campo da teologia moral, que trazem consequências dramáticas para a sociedade. Não se pode esquecer que a reflexão moral sempre é realizada à luz do Cristo e não na negação do transcendente como algumas teorias éticas, chegando a negar, por exemplo, a doutrina tradicional sobre a lei natural, a universalidade e a validade dos preceitos, deixando de lado os ensinamentos morais da Igreja. O que é necessário resgatar é que o homem permanece em si mesmo um grande mistério, um enigma que não é possível ser decifrado, com isso, compreende-se que ele não é livre verdadeiramente a tal ponto que tenha uma consciência clara e possa viver de modo arbitrário, desvinculado dos mandamentos. O homem necessita ser guiado segundo a Verdade para que possa encontrar o sentido último de sua vida humana, por isso o Sumo Pontífice João Paulo II, por meio do documento oferece uma doutrina clara, às questões que visem esclarecer os pontos atinentes da situação moral da contemporaneidade que passa por uma crise.
Por fim, o terceiro capítulo, destaca-se pela aplicabilidade do bem moral na Igreja e no mundo, que de modo todo peculiar a partir do mistério de Jesus crucificado, o homem pode encontrar o sentido pleno de sua liberdade, pois na cruz é que Jesus vive de modo autêntico e livre. O cristão encontra no martírio a total liberdade, pois rejeita e abstém de tudo aquilo que é exterior para abraçar de modo total e pleno a cruz. Foi em grande número de homens e mulheres que preferiram toda perseguição, morte, violência, do que dar um testemunho contra essa verdade moral. Por isso, a Igreja defende de modo irrevogável essa verdade, para que o homem possa chegar até ela. Portanto, à luz da Revelação que os pastores que são arautos do evangelho devem conduzir os novos discípulos, para que os valores fundamentais relacionados com a dignidade da pessoa e com a verdade dos atos, não sejam postos de lado, por nenhuma ditadura do relativismo, nem por teólogos, mas que a autoridade derive sempre do Espírito Santo e na comunhão cum Petro et sub Petro.

APRECIAÇÃO CRÍTICA

Nos tempos hodiernos em que vivemos, encontramo-nos, em uma sociedade que ignora o sentido último de uma verdade que seja clara e objetiva a todos. Percebe-se que há um subjetivismo muito grande com relação à verdade, pois cada ser humano estabelece o seu conceito de verdade de modo arbitrário, fazendo, com isso, que a verdade perca o seu sentido de ser única e objetiva.
            O homem é chamado à obediência da verdade, claro que tal cumprimento nem sempre é realizável, pois o homem continuamente é tentado a desviar-se do sentido último de sua vida, trocando a verdade pela mentira. Assim, na sociedade atual, percebe-se o quanto o homem tem se desviado da verdade, abandonando-se no subjetivismo e no relativismo, porquanto vive a procura de sua liberdade que acaba por ser ilusória.
            O apelo da Encíclica que não é de uma leitura fácil, mas bastante desafiadora nos três capítulos que são apresentados, embora o segundo capítulo seja mais denso, quer levar o homem a encontrar-se com essa verdade, num tempo em que cada vez mais a busca pela autonomia diante das escolhas da vida, já não seguem os preceitos morais tradicionais e da Igreja, ou até mesmo de uma lei natural, mas o que se deseja é chegar a uma libertinagem, exemplo disso, é o que se nota com relação a união de homossexuais, a descriminalização do aborto, e entre outros. 
Neste sentido o documento oferece as bases imprescindíveis para um ensinamento correto acerca da moral da Igreja Católica, mostrando os pontos fundamentais e doutrinários, uma vez que tais fundamentos correm riscos de serem deteriorados ou até mesmo negados, por teorias éticas contemporâneas, algumas delas com tendências subjetivistas, ameaçando, assim, a compreensão da moral Católica.
            Portanto, a Encíclica pretende ser uma luz a conduzir as consciências para a Verdade que é o próprio Cristo. A Igreja quando ensina questões morais não tem por intuito ferir a liberdade humana, mas apresentar às consciências verdades que não são estranhas ao coração do homem, por que são sempre realizadas a partir da Revelação.  

FRASES E COMENTÁRIOS

1-“Assim o mandamento ‘não matarás’ torna-se o apelo a um amor solícito que tutela e promove a vida do próximo”.
O convite a vivência do quinto mandamento, não pode apenas o limite, mas pretende de alguma forma ser um apelo e um convite a lutar pela vida com todas as exigências.
2- “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que possuíres, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me”.
Percebe-se que a proposta de Jesus é sempre um convite ao exercício da liberdade humana, embora a proposta inevitavelmente imponha uma condição, pois para ser discípulo de Jesus, é necessário sentir-se impelido a fazer uma opção pelo seu sentido de vida.
3- “Ao ouvir isto, o jovem retirou-se contristado, porque possuía muitos bens”.
Para seguir a Cristo, é necessário, sobretudo, que o ser humano tenha o coração no lugar certo, ou seja, em Deus. O jovem vai embora, porque possuía muitos bens, e esses o afastavam do Bem supremo, que é Deus: “onde está o teu coração, aí está o teu coração”.
4- “Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres”
A liberdade está relacionada com a verdade. A mentira e o pecado nos escravizam, logo, para que o homem possa ser livre é preciso estar assentado sob a verdade, que é Cristo.
5- “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto dá árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás”.
A lei moral provém de Deus e nele encontra a sua fonte. Desse modo, não pertence ao homem, decidir o bem e o mal, mas somente a Deus de quem deriva toda a sabedoria. 
6- “A verdadeira autonomia moral do homem de modo algum significa a recusa, mas sim o acolhimento da lei moral, do mandamento de Deus”.
A autonomia moral do homem não significa que ele é fonte dos valores morais, mas que em Deus, ou seja, nos mandamentos ele encontra o sentido último para sua vida de forma autônoma.
7-“As circunstâncias ou as intenções nunca poderão transformar um ato intrinsecamente desonesto pelo seu objeto, num ato subjetivamente honesto ou defensível como opção”.
O fim não justifica os meios. No caso, assassinar uma vida para salvar outra, é reduzir o primeiro a situação de objeto.
8- “Aliás, uma palavra só é verdadeiramente acolhida quando se traduz em atos, quanto é posta em prática”.
A frase de Madre Teresa de Calcutá expressa o sentido desta frase: “Palavras convencem, mas testemunhos arrastam”.
9- “Não se pode negar que o homem sempre existe dentro de uma cultura particular, mas também não se pode negar que o homem não se esgota nesta mesma cultura”.
Sabe-se que todo o se humano é oriundo de uma determinada cultura e que essa deve ser respeitada, mas ele não deve restringir-se unicamente a essa cultura divinizando-a e ignorando a outras.
10- “A consciência é a única testemunha”.
Quando o ser humano é exposto diante de qualquer questão, somente a luz da sua consciência que é possível saber o que acontece na sua intimidade, pois diante dos olhos humanos, qualquer fato fica velado.

Resumo/Abordagens Práticas: Enigma da Esfinge

on segunda-feira, 25 de junho de 2012

SEMINÁRIO DE TEOLOGIA DIVINO MESTRE
Disciplina: Moral Pessoal/Sexual – 2º Bimestre/2012
Professor: Luiz Fernando de Lima
Aluno: Aleandro José da Silva
Resumo/Abordagens Práticas: Enigma da Esfinge – Antônio Moser

“A vida é como uma espiral e não como uma linha reta.
Passado e futuro se encontram em um infinito presente”.
A espiral é a essência do mistério da vida. (Anônimo)


SUMÁRIO

Ø  INTRODUÇÃO

                    I.          Mitos e ciências apontam para uma realidade misteriosa
                  II.          O suporte antropológico
                 III.          A descoberta de novas faces
                IV.          Esboço de uma teologia atualizada
                 V.          Na busca de novos parâmetros éticos
                VI.          Integração: ideal claro num percurso obscuro
               VII.          Como acolher pastoralmente as pessoas homossexuais
Ø  BIBLIOGRAFIA
  1. RESUMO PRÁTICO – ENIGMA DA ESFINGE: A SEXUALIDADE
Desde início a sexualidade é compreendida como um mistério. Todavia, este mistério torna-se uma presença constante ao longo de toda a história. Este campo misterioso é tido como um conjunto de características que de se certa forma abarcam e expressam a todo o ser humano, seja na unidade do corpo e do espírito que se traduz na configuração de sua personalidade. Neste sentido, de qualquer forma, o grande desafio é o de nos achegarmos à porta deste mistério.
Na abordagem pedagógica do livro O enigma da esfinge[1], o autor trabalha de maneira notória o aspecto da sexualidade humana. A princípio, Moser discorre da temática ressaltando que a sexualidade continua interrogando os seres humanos, e se constitui num dos mistérios mais fascinantes e ao mesmo tempo mais enigmáticos. De tal forma, conclui o autor, que tal santuário guardado a sete chaves, se manifesta tanto mais desafiante quanto mais julgamos estar próximos desvendar seus segredos.
Neste processo integrador e característico e apesar da sua profundidade e do caráter misterioso que a envolve, podemos constatar que a sexualidade humana se configura sempre numa sociedade e numa cultura.
Adentrando-se ao essencial da temática, percebe-se que o fascínio por assuntos sexuais não vem desde hoje: vem acompanhando a humanidade de todos os tempos. Tal fascínio parece remeter diretamente para o mistério que envolve a sexualidade e, por extensão, que envolve a própria vida humana. A obra do autor sobre a sexualidade é ao mesmo tempo equilibrada, provocante e iluminadora num dos mais fascinantes aspectos da realidade humana. É neste sentido que Moser destaca uma das mais intrigantes lendas: a do enigma da esfinge[2].
De fato, nesta perspectiva, a rigor, na mitologia, Moser declara que a sexualidade não é propriedade dos seres humanos nem dos demais seres, mas é propriamente exclusiva dos deuses. Entretanto, neste processo o autor colocou a imagem da esfinge e das cidades gregas referentes ao mito – Atenas (símbolo da arte, poesia, criatividade), Corinto (símbolo da comunicação e comunhão) e Delfhos (cidade dos deuses e do florescimento humano): como propósito simbólico, preenchendo o simbolismo no que rodeia a sexualidade.
Na linha de raciocínio do autor, a sexualidade é uma moradia com muitas janelas abertas para o mundo. Neste ínterim, ela é uma das energias estruturantes do ser humano, que perpassa toda a realidade humana. Basta ainda dizer que a sexualidade caracteriza o homem e a mulher não somente no plano físico, como também no psicológico e espiritual, marcando toda a sua expressão.
Contudo, é em meio ao suporte antropológico que a sexualidade se estrutura dentro de um corpo biológico, que de certa forma se articula com um corpo psíquico-afetivo. Sobretudo, é ainda na materialidade do corpo que a sexualidade encontra sua sede. Só que o corpo humano não somente é a sede da mesma. Ele é sede também de toda e qualquer atividade humana, seja política, social, cultural, simbólica ou religiosa.
Neste aspecto, há de evidenciar-se que a nossa sexualidade se estrutura a partir de um corpo espiritual. Pois, no ser humano é o espírito que configura a corporeidade. Aqui entra também a afetividade, os sentimentos, a capacidade de amar e de odiar. É o amor que nos faz descobrir o sentido da sexualidade humana.
Porventura, uma vez abordada a dimensão espiritual, cabe-se agora, apresentar o esboço de uma teologia atualizada. De um ponto de vista teológico, a questão mais fundamental sobre a sexualidade é do sentido último. Sendo assim, afirma o autor, que o sentido último da sexualidade é um só: o da comunhão no Amor.
Sobretudo, não esqueçamos que também se deve dizer da sexualidade: está presente em todos os campos do agir humano, mas o ser humano não pode ser reduzido à sua sexualidade, por mais abrangente e profunda que esta seja considerada. Ela é uma realidade polivalente ou multiforme. A atividade sexual é toda a pessoa que se encontra envolvida, numa complexa teia de relações interna e externas. Estas muitas faces da sexualidade se apresentam em primeira linha como dimensões da pessoa. Neste caso, todas as dimensões são importantes para a construção dessa morada que se denomina ser humano.
Outro aspecto abordado nesse campo de estudos é a busca de novos parâmetros éticos[3]. Onde são propostos novos critérios e parâmetros éticos, resgatando alguns posicionamentos históricos. Todavia, são também enfatizados por Moser alguns fundamentos teológicos, como: Palavra de Deus, Tradição, Magistério, valores e normas, enfim, são propostos mais seis indicativos: educação para o amor, a alteridade, cultivo da fidelidade, o senso de responsabilidade social, promoção da vida, e acima de tudo, a ludicidade, libertando-se da tirania do prazer.
Considera-se, que estes parâmetros devem ser entendidos na luz da verdade. Daí se percebe o aparecimento da integração como um ideal claro num percurso obscuro. Nota-se que o autor expõe os limites, desafios e dificuldades para uma integração total da sexualidade[4]. Neste percurso são apresentadas também algumas patologias (anomalias, disfunções e desvios/perversões).
Entretanto, tendo-se sublinhado as ideias centrais do autor. Agora cabe a nós revelar o enigma da esfinge[5]. Na linha de pensamento de Moser, na lenda de Tebas, de alguma forma, os principais personagens não são propriamente os que têm nome. Os verdadeiros personagens seriam todos os seres humanos. E o enigma, por sua vez, não seria propriamente o que é formulado: “Qual o ser que anda de manhã com quatro patas, ao meio-dia com duas e, à tarde, com três e que, contrariamente à lei geral, é mais fraco quando tem mais pernas?” A resposta é simples: é o ser humano nas principais etapas da vida. Porém, o ser humano, ao mesmo tempo que é misterioso para si próprio, vive rodado de outros tantos mistérios. O enigma aponta para cada ser humano.
No entanto, é importante destacar que um dos ângulos mais perturbadores do enigma é o da ambivalência da sexualidade humana: o que é mais trágico, na lenda, é que o ser humano traz consigo as marcas da animalidade e é a única criatura suscetível de perversão. De certa forma a banalização reduz o homem a seus instintos mais abjetos, visualizando-o como simples e irracional. Para cortar o caminho da perversão e encontrar o caminho da sua realização, o ser humano tem que conhecer-se a si mesmo e não ter medo de assumir suas próprias sombras.
Por fim, Moser depois de evidenciados os aspectos primeiros que norteiam a temática da sexualidade. Agora, ele propõe trabalhar de modo específico o tema da homossexualidade. Procurando desenvolver o assunto no capítulo final da obra. Destacando o princípio de como acolher pastoralmente as pessoas homossexuais[6].
Dá-se a entender que Moser não elimina a conflituosa tensão acerca dessa presença insistente e questionadora em todos os ambientes humanos. De certa forma, ele detecta os fatores determinantes, as tendências, os atos, comportamentos e condutas. Acima de tudo, é visível que o autor lança mão de luzes na Palavra Divina, no que toca o caminhar da Igreja com suas variadas visões morais e pastorais. Enfim, são apontadas pelo mesmo, quatro maneiras de se trabalhar com pessoas homossexuais[7]: afinar-se com a pastoral e a pedagogia de Jesus; acolhida; buscar o sentido nessas vidas; relativizar o sexo para valorizar a sexualidade[8]. Neste sentido, Moser mostra que viver uma sexualidade integradamente requer a contínua desenvoltura com os enigmas misteriosos da Esfinge.
Portanto, nesta obra percebemos que por detrás de tão grande mistério se esconde um grande tesouro: a sexualidade. Neste contexto, a sexualidade é uma componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o amor humano. Enfim, diz Moser: A quem não desvenda os seus segredos, ou não vive em sintonia com o que descobre, porém, abrem-se somente as perspectivas do vazio existencial, da solidão e da própria morte.

2.    MELHORES FRASES

ü  O ser humano, ao mesmo tempo que é misterioso para si próprio, vive rodeado de outros tantos mistérios.

ü  O enigma aponta para cada ser humano. A solução é ‘eu mesmo’.

ü  O ser humano tem que conhecer-se a si mesmo e não ter medo de assumir suas próprias sombras.

ü  O Deus da revelação deixou os vestígios de seus projetos profundamente impressos em toda e qualquer realidade humana.

ü  Humanizar é um dos objetivos primeiros da Ética.

ü  A sexualidade está presente em todos os campos do agir humano, mas o ser humano não pode ser reduzido à sua sexualidade, por mais abrangente e profunda que esta seja considerada.

ü  A sexualidade faz do anúncio central do Evangelho, de que Deus nos ama e nos criou para o amor.

ü  A sexualidade nunca é força neutra.

ü  Só entende a realização no celibato quem entende a dinâmica da cruz-ressurreição.

ü  A busca da integração sexual é, portanto, um imperativo básico para todos.

ü  Os mitos poderiam, destarte, ser considerados como uma chave preciosa para adentrar no terreno da sexualidade.

ü  A sexualidade é uma moradia com muitas janelas abertas para o mundo.
3.    APRECIAÇÃO CRÍTICA DO LIVRO

O Enigma da Esfinge, uma obra de Antônio Moser, contém um conteúdo que deve ser mais aprofundado. Aparentemente a obra é meio densa, onde requer do leitor tempo e dedicação e, acima de tudo, certo nível de conhecimento. Percebe-se que a temática utilizada por Moser tem a pretensão de resgatar e recuperar valores uma vez esquecidos até mesmo perdidos.
Nota-se que o autor não apenas faz colocações e interrogações, mas quer apresentar a sexualidade de forma distinta das tantas já existentes. Ao decorrer dos ensaios o leitor compreende que é claro que a sexualidade é de fato como uma esfinge, cheia de enigmas indecifráveis.
Acredito que a leitura da obra serviu de mais aprofundamento e de crescimento quanto às experiências já evidenciadas em sala de aula. Às vezes pensamos que o conceito sexualidade é um “bicho de sete cabeças”, ou seja, “um baú de surpresas”. Talvez as resposta sejam variadas, todavia, o mais importante não são os mistérios, ou os enigmas, o que vale saber, são o que eles revelam e traduzem.
Portanto, por mais que exista uma confusão inesperada de ideias, fazendo que percamos o raciocínio prático. Concluímos que, Moser traça um grande percurso para chegar ao essencial. Elabora todo um aparato de recomendações sem mesmo desconsiderar o princípio originário de seus questionamentos. Nitidamente, o processo pelo qual ele trabalha não é o de apresentar a sexualidade como vilã. Mas, como a protagonista que perpassa todo o gênero humano.









[1] Neste contexto nota-se que a sexualidade humana é o ponto central da história humana, aparecendo na literatura, nas lendas, nas artes, na comunicação e na própria religião. Tomando como ponto de partida o enigma da esfinge do mito grego de Édipo, o autor procura iluminar este mistério através de sete chaves. A chave da intuição contida nos mitos, a das ciências, a da teologia, a da ética, a da experiência da Igreja, a da experiência pastoral e a da surpreendente configuração afetiva das pessoas homossexuais. A sexualidade humana se apresenta como uma questão de vida e de morte. Entretanto, se através das sete chaves as pessoas forem capazes de desvendar seu próprio enigma. Neste caso não existe nada mais constante na história do mundo que a sexualidade. Portanto, as variadas abordagens da sexualidade podem elevá-la a um posto que não a pertença ou diminuí-la de forma que perca sua real importância e significância para o homem (MOSER, Antônio. O enigma da esfinge: a sexualidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001).
[2] Esta lenda parece trabalhar numa pressuposição muito presente nas reflexões éticas atuais: a da ambivalência radical da sexualidade como expressão da ambivalência radical da própria vida humana. Justamente hoje, num mundo onde lendas, mística, ritos, e mitos são, muitas vezes, relegados ao plano do obscurantismo, talvez seja importante resgatar as intuições profundas que podem esconder-se por trás desse mundo hoje talvez considerado como primitivo (MOSER, 2001, p. 17).
[3] Falar na busca de “novos parâmetros” já causa sentimentos de opostos: para alguns, a expressão evoca a esperança de uma Moral que apareça mais parte da Boa Notícia do Evangelho do que como uma espécie de coleção de interditos; para outros, a expressão “novos parâmetros” assusta, pois implicitamente se está sugerindo que os velhos parâmetros já não servem. Diante destes sentimentos contraditórios provocados por uma expressão, convém deixar muito claro que esta e outras expressões semelhantes querem simplesmente caracterizar a dinamicidade da vida e a necessidade humana de ver esta vida com novos olhos (MOSER, 2001, p. 170).
[4] Quanto mais aproximarmos do núcleo de nossas preocupações em relação à integração sexual e afetiva, mais importante se torna ter presente que a luta por tal integração se constitui num processo contínuo e inacabado, para todos (MOSER, 2001, p. 280).
[5] Resolver o enigma converte-se destarte em sinônimo de ‘conhecer-te a ti mesmo’. Esta é a significação do sorriso da Esfinge, simultaneamente misterioso e irônico: nesta vida ninguém jamais conseguirá conhecer-se totalmente (MOSER, 2001, p. 25).
[6] O sorriso enigmático da esfinge, com certeza, nos envia uma mensagem muito clara: “não tentem enquadrar pura e simplesmente todas as pessoas em esquemas pré-fabricados, separadinhos em dois blocos bem distintos, com sentimentos bem delineados. As pessoas homossexuais também são pessoas humanas e encarnam uma face oculta da humanidade (MOSER, 2001, p. 213).
[7] O fenômeno homossexual é também a expressão mais profunda do “vazio” e da “carência” que todo ser humano experimenta diante da sede de um amor infinito que nesta vida só lhe é dado satisfazer em parte (MOSER, 2001, p. 258-259).
[8] A obsessão pelo sexo, como único ou principal caminho da realização humana, faz parte de um esquema cultivado para alienar pessoas e grupos que poderiam representar mudanças estruturais na sociedade (MOSER, 2001, p. 255).

Discurso sobre o Documento Porta Fidei

on sexta-feira, 22 de junho de 2012

PORTA FIDEI  (Porta da Fé)
 Valney Augusto Rodrigues
2º Ano de Teologia

            O Papa Bento XVI proclamará o ANO DA FÉ, que terá início dia 11 de outubro do corrente ano, no cinqüentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e findará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, dia 24 de novembro de 2013. A Porta da Fé (cf. At 14,27), nos introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, que está sempre aberta para nós. É um caminho que dura a vida inteira, tem início com o batismo (cf. Rm 6,4) e sua conclusão se dá através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Cristo Jesus.
            Desde o início de seu pontificado, o Papa Bento, lembrou da necessidade de redescobrir o caminho da fé, para assim fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com o Cristo. Podemos nos perguntar, o que levou o Santo Padre a esta atitude? Entre tantos motivos, destaco, a profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas, inclusive sacerdotes. A partir do evangelista Mateus, o sumo pontífice é enfático: Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida”. (cf. Mt 5, 13-16)
Penso que a sociedade passa por uma grande crise de fé e que atingiu também os nossos sacerdotes, ora, como conceber tal situação, se nossos pastores, que são os responsáveis em nos transmitir e nos orientarem na fé, também sofrem do mesmo mal, como haveria de estar todo o povo de Deus? A atual situação sinaliza para algo mais grave, nossos sacerdotes precisam urgentemente, redescobrirem o caminho da fé para assim poderem orientar suas ovelhas, ou seja, a sociedade como um todo.

 TAREFA DIFÍCIL, UM GRANDE DESAFIO!!! Mas penso que esta crise nos levará a experimentarmos, todos, sacerdotes e fiéis leigos, o grande amor que o Pai tem para conosco, principalmente com seus ungidos. Vamos traçar algumas pistas, sem a pretensão de fechar a questão, pelo contrário, para que assim, juntos, possamos vislumbrar a melhor solução, afinal eu também estou comprometido com este processo, tendo em vista o meu anseio em ser um sacerdote, se assim a graça de Deus me permitir.
Primeiramente vamos tratar da crise de fé dos sacerdotes, não são todos, mas uma expressiva parcela do presbitério; em seguida, trataremos da crise de fé da sociedade, que quer queira quer não, deriva parcialmente da crise de fé que assola nossos presbíteros.  
            Através das notícias, fatos e também situações que nós podemos apreciar, que chegam até nós através da mídia, em suas várias vertentes e também de fiéis leigos, ouso destacar que um dos maiores causadores desta crise de fé, provém destes sacerdotes não saberem administrar seu tempo de forma saudável, ora esbarra no ativismo, ora no funcionalismo. EXPLICO: realmente o dia-a-dia de uma paróquia não deve ser é fácil, são muitos afazeres, muitos atendimentos, a administração da paróquia que exige muito do pároco e tantos outros compromissos, sem falar na celebração dos sacramentos, que por si só exige muito dos nossos presbíteros, assim se configura o ativismo, excesso de atividades que se não forem bem concatenadas, leva o sacerdote à exaustão,  podendo chegar a  perda de identidade.
            Já o funcionalismo, aparece, cada dia mais explícito, infelizmente, devido o sacerdote encarar o seu ministério como profissão e não como vocação, ele atua como um profissional e não um homem consagrado a Deus, para pastorear um rebanho específico, para zelar por sua comunidade (várias pastorais e movimentos), não, ele observa os números: de fiéis, pastorais, balancetes, a renda da festa do padroeiro, e tantas outras cifras. Preocupa-se com o temporal e o espirtitual, a mística, o patoreio são colocados de lado. Não quero dizer que os números  não são  importantes, pelo contrário, mas não é o ESSENCIAL, não deve ser o real escopo, mas sim CONSEQUÊNCIA da boa, correta e sã administração de toda a outra parte, que é a que mais interessa a Deus, a salvação das almas através dos sacramentos, como nos ensina a Santa Mãe Igreja.
Para isso, os párocos podem e devem contar com um bom conselho administrativo e financeiro, formado por leigos e também profissionais que se dispõe a ajudá-lo. Destaco outros aspectos que podem tirar o sacerdote do seu real escopo: preocupação excessiva com paramentos, com o carro da paróquia e por aí vai.
Como solucionar estas questões?
             Penso que se os sacerdotes buscarem as práticas espirituais, ou seja, a oração pessoal, oração da liturgia das horas, devoção à Virgem Maria, através do santo terço, adoração ao Santíssimo Sacramento, a Santa Eucaristia, de preferência diariamente, ou seja, buscar a intimidade com Jesus, é um bom começo para assim nutrirem sua fé. Então o funcionalismo e também o ativismo serão equacionados gradativamente, pela sabedoria, o discernimento e o equilíbrio que derivam da sua profunda intimidade com Deus. Assim retomarão o seu verdadeiro caminho e missão que é orientar o seu rebanho na fé e na sã doutrina da Igreja, através da celebração dos sacramentos.
             Agora, com relação a crise de fé da sociedade, já solucionamos boa parte da questão, pois se os nossos pastores estão bem nutridos na fé, “ alimentados” pelas práticas espirituais e principalmente pela Santa Eucaristia, se tornam como setas a sinalizar o caminho que todo o rebanho e cada ovelha deve percorrer, para assim redescobrirem o caminho da fé, pois esta virtude teologal nos é dada pelo sacramento do batismo e que se não for nutrida, ela não crescerá e tão pouco dará os frutos necessários, sendo a conversão o primeiro e mais importante deles.
É claro que outros fatores também contribuem com esta crise, tipo: a racionalização da fé, a banalização dos sacramentos, a violência de todos os tipos e níveis, a ditadura do relativismo, a cultura de morte, a banalização da vida e tantos outros. Para combatê-los, entra a Igreja, através dos sacerdotes, que reorganizam este turbilhão no cotidiano da sociedade, mais especificamente nas nossas famílias e orientam à luz do Evangelho, como cada fiel leigo deve proceder, perante tais dificuldades que compõe a crise.
             Concluindo, o insigne apóstolo Paulo na segunda carta a Timóteo, pede a ele que “ procure a fé”(cf. 2Tm 2,22) com a mesma constância de quando era novo (cf. 2Tm 3,15), ou seja, que continue a buscá-la de modo tenaz, com determinação e esperança, como na sua juventude. Este convite estende-se a todos nós, para que ninguém se torne indolente na fé e com um olhar devagar e sempre novo, percebamos as maravilhas que Deus realiza em nós e por nós. Possa este ANO DA FÉ, florescer em nós anseios de mais unidade  e compromisso com a Trindade Santa, através da mãe Igreja e de forma concreta colhermos os frutos, digo, as obras desta rica e inefável experiência com Deus.
Penso que a vivência deste ANO DA FÉ, que não é a primeira vez que é proclamado - pois, o Papa Paulo VI convocou um ano semelhante em 1967, em comemoração do  décimo nono centenário dos martírios dos apóstolos Pedro e Paulo – será uma OPORTUNIDADE ÚNICA DE VIVENCIARMOS UM GRANDE KAIRÓS, em toda a nossa Igreja e que com certeza, pela intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, a fé de todo o povo de Deus sairá FORTALECIDA e se tornará de forma eficaz enraizada em Cristo Jesus.  Mas para isso, precisamos, todos, nos comprometermos com o plano de ação que o Santo Padre nos apresentará, para assim vivermos de forma plena este propósito que brotou do coração de Deus para a sua Igreja. SEJAMOS, TODOS, DÓCEIS AO ESPÍRITO SANTO!!!