Resumo/Abordagens Práticas: Enigma da Esfinge

on segunda-feira, 25 de junho de 2012

SEMINÁRIO DE TEOLOGIA DIVINO MESTRE
Disciplina: Moral Pessoal/Sexual – 2º Bimestre/2012
Professor: Luiz Fernando de Lima
Aluno: Aleandro José da Silva
Resumo/Abordagens Práticas: Enigma da Esfinge – Antônio Moser

“A vida é como uma espiral e não como uma linha reta.
Passado e futuro se encontram em um infinito presente”.
A espiral é a essência do mistério da vida. (Anônimo)


SUMÁRIO

Ø  INTRODUÇÃO

                    I.          Mitos e ciências apontam para uma realidade misteriosa
                  II.          O suporte antropológico
                 III.          A descoberta de novas faces
                IV.          Esboço de uma teologia atualizada
                 V.          Na busca de novos parâmetros éticos
                VI.          Integração: ideal claro num percurso obscuro
               VII.          Como acolher pastoralmente as pessoas homossexuais
Ø  BIBLIOGRAFIA
  1. RESUMO PRÁTICO – ENIGMA DA ESFINGE: A SEXUALIDADE
Desde início a sexualidade é compreendida como um mistério. Todavia, este mistério torna-se uma presença constante ao longo de toda a história. Este campo misterioso é tido como um conjunto de características que de se certa forma abarcam e expressam a todo o ser humano, seja na unidade do corpo e do espírito que se traduz na configuração de sua personalidade. Neste sentido, de qualquer forma, o grande desafio é o de nos achegarmos à porta deste mistério.
Na abordagem pedagógica do livro O enigma da esfinge[1], o autor trabalha de maneira notória o aspecto da sexualidade humana. A princípio, Moser discorre da temática ressaltando que a sexualidade continua interrogando os seres humanos, e se constitui num dos mistérios mais fascinantes e ao mesmo tempo mais enigmáticos. De tal forma, conclui o autor, que tal santuário guardado a sete chaves, se manifesta tanto mais desafiante quanto mais julgamos estar próximos desvendar seus segredos.
Neste processo integrador e característico e apesar da sua profundidade e do caráter misterioso que a envolve, podemos constatar que a sexualidade humana se configura sempre numa sociedade e numa cultura.
Adentrando-se ao essencial da temática, percebe-se que o fascínio por assuntos sexuais não vem desde hoje: vem acompanhando a humanidade de todos os tempos. Tal fascínio parece remeter diretamente para o mistério que envolve a sexualidade e, por extensão, que envolve a própria vida humana. A obra do autor sobre a sexualidade é ao mesmo tempo equilibrada, provocante e iluminadora num dos mais fascinantes aspectos da realidade humana. É neste sentido que Moser destaca uma das mais intrigantes lendas: a do enigma da esfinge[2].
De fato, nesta perspectiva, a rigor, na mitologia, Moser declara que a sexualidade não é propriedade dos seres humanos nem dos demais seres, mas é propriamente exclusiva dos deuses. Entretanto, neste processo o autor colocou a imagem da esfinge e das cidades gregas referentes ao mito – Atenas (símbolo da arte, poesia, criatividade), Corinto (símbolo da comunicação e comunhão) e Delfhos (cidade dos deuses e do florescimento humano): como propósito simbólico, preenchendo o simbolismo no que rodeia a sexualidade.
Na linha de raciocínio do autor, a sexualidade é uma moradia com muitas janelas abertas para o mundo. Neste ínterim, ela é uma das energias estruturantes do ser humano, que perpassa toda a realidade humana. Basta ainda dizer que a sexualidade caracteriza o homem e a mulher não somente no plano físico, como também no psicológico e espiritual, marcando toda a sua expressão.
Contudo, é em meio ao suporte antropológico que a sexualidade se estrutura dentro de um corpo biológico, que de certa forma se articula com um corpo psíquico-afetivo. Sobretudo, é ainda na materialidade do corpo que a sexualidade encontra sua sede. Só que o corpo humano não somente é a sede da mesma. Ele é sede também de toda e qualquer atividade humana, seja política, social, cultural, simbólica ou religiosa.
Neste aspecto, há de evidenciar-se que a nossa sexualidade se estrutura a partir de um corpo espiritual. Pois, no ser humano é o espírito que configura a corporeidade. Aqui entra também a afetividade, os sentimentos, a capacidade de amar e de odiar. É o amor que nos faz descobrir o sentido da sexualidade humana.
Porventura, uma vez abordada a dimensão espiritual, cabe-se agora, apresentar o esboço de uma teologia atualizada. De um ponto de vista teológico, a questão mais fundamental sobre a sexualidade é do sentido último. Sendo assim, afirma o autor, que o sentido último da sexualidade é um só: o da comunhão no Amor.
Sobretudo, não esqueçamos que também se deve dizer da sexualidade: está presente em todos os campos do agir humano, mas o ser humano não pode ser reduzido à sua sexualidade, por mais abrangente e profunda que esta seja considerada. Ela é uma realidade polivalente ou multiforme. A atividade sexual é toda a pessoa que se encontra envolvida, numa complexa teia de relações interna e externas. Estas muitas faces da sexualidade se apresentam em primeira linha como dimensões da pessoa. Neste caso, todas as dimensões são importantes para a construção dessa morada que se denomina ser humano.
Outro aspecto abordado nesse campo de estudos é a busca de novos parâmetros éticos[3]. Onde são propostos novos critérios e parâmetros éticos, resgatando alguns posicionamentos históricos. Todavia, são também enfatizados por Moser alguns fundamentos teológicos, como: Palavra de Deus, Tradição, Magistério, valores e normas, enfim, são propostos mais seis indicativos: educação para o amor, a alteridade, cultivo da fidelidade, o senso de responsabilidade social, promoção da vida, e acima de tudo, a ludicidade, libertando-se da tirania do prazer.
Considera-se, que estes parâmetros devem ser entendidos na luz da verdade. Daí se percebe o aparecimento da integração como um ideal claro num percurso obscuro. Nota-se que o autor expõe os limites, desafios e dificuldades para uma integração total da sexualidade[4]. Neste percurso são apresentadas também algumas patologias (anomalias, disfunções e desvios/perversões).
Entretanto, tendo-se sublinhado as ideias centrais do autor. Agora cabe a nós revelar o enigma da esfinge[5]. Na linha de pensamento de Moser, na lenda de Tebas, de alguma forma, os principais personagens não são propriamente os que têm nome. Os verdadeiros personagens seriam todos os seres humanos. E o enigma, por sua vez, não seria propriamente o que é formulado: “Qual o ser que anda de manhã com quatro patas, ao meio-dia com duas e, à tarde, com três e que, contrariamente à lei geral, é mais fraco quando tem mais pernas?” A resposta é simples: é o ser humano nas principais etapas da vida. Porém, o ser humano, ao mesmo tempo que é misterioso para si próprio, vive rodado de outros tantos mistérios. O enigma aponta para cada ser humano.
No entanto, é importante destacar que um dos ângulos mais perturbadores do enigma é o da ambivalência da sexualidade humana: o que é mais trágico, na lenda, é que o ser humano traz consigo as marcas da animalidade e é a única criatura suscetível de perversão. De certa forma a banalização reduz o homem a seus instintos mais abjetos, visualizando-o como simples e irracional. Para cortar o caminho da perversão e encontrar o caminho da sua realização, o ser humano tem que conhecer-se a si mesmo e não ter medo de assumir suas próprias sombras.
Por fim, Moser depois de evidenciados os aspectos primeiros que norteiam a temática da sexualidade. Agora, ele propõe trabalhar de modo específico o tema da homossexualidade. Procurando desenvolver o assunto no capítulo final da obra. Destacando o princípio de como acolher pastoralmente as pessoas homossexuais[6].
Dá-se a entender que Moser não elimina a conflituosa tensão acerca dessa presença insistente e questionadora em todos os ambientes humanos. De certa forma, ele detecta os fatores determinantes, as tendências, os atos, comportamentos e condutas. Acima de tudo, é visível que o autor lança mão de luzes na Palavra Divina, no que toca o caminhar da Igreja com suas variadas visões morais e pastorais. Enfim, são apontadas pelo mesmo, quatro maneiras de se trabalhar com pessoas homossexuais[7]: afinar-se com a pastoral e a pedagogia de Jesus; acolhida; buscar o sentido nessas vidas; relativizar o sexo para valorizar a sexualidade[8]. Neste sentido, Moser mostra que viver uma sexualidade integradamente requer a contínua desenvoltura com os enigmas misteriosos da Esfinge.
Portanto, nesta obra percebemos que por detrás de tão grande mistério se esconde um grande tesouro: a sexualidade. Neste contexto, a sexualidade é uma componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o amor humano. Enfim, diz Moser: A quem não desvenda os seus segredos, ou não vive em sintonia com o que descobre, porém, abrem-se somente as perspectivas do vazio existencial, da solidão e da própria morte.

2.    MELHORES FRASES

ü  O ser humano, ao mesmo tempo que é misterioso para si próprio, vive rodeado de outros tantos mistérios.

ü  O enigma aponta para cada ser humano. A solução é ‘eu mesmo’.

ü  O ser humano tem que conhecer-se a si mesmo e não ter medo de assumir suas próprias sombras.

ü  O Deus da revelação deixou os vestígios de seus projetos profundamente impressos em toda e qualquer realidade humana.

ü  Humanizar é um dos objetivos primeiros da Ética.

ü  A sexualidade está presente em todos os campos do agir humano, mas o ser humano não pode ser reduzido à sua sexualidade, por mais abrangente e profunda que esta seja considerada.

ü  A sexualidade faz do anúncio central do Evangelho, de que Deus nos ama e nos criou para o amor.

ü  A sexualidade nunca é força neutra.

ü  Só entende a realização no celibato quem entende a dinâmica da cruz-ressurreição.

ü  A busca da integração sexual é, portanto, um imperativo básico para todos.

ü  Os mitos poderiam, destarte, ser considerados como uma chave preciosa para adentrar no terreno da sexualidade.

ü  A sexualidade é uma moradia com muitas janelas abertas para o mundo.
3.    APRECIAÇÃO CRÍTICA DO LIVRO

O Enigma da Esfinge, uma obra de Antônio Moser, contém um conteúdo que deve ser mais aprofundado. Aparentemente a obra é meio densa, onde requer do leitor tempo e dedicação e, acima de tudo, certo nível de conhecimento. Percebe-se que a temática utilizada por Moser tem a pretensão de resgatar e recuperar valores uma vez esquecidos até mesmo perdidos.
Nota-se que o autor não apenas faz colocações e interrogações, mas quer apresentar a sexualidade de forma distinta das tantas já existentes. Ao decorrer dos ensaios o leitor compreende que é claro que a sexualidade é de fato como uma esfinge, cheia de enigmas indecifráveis.
Acredito que a leitura da obra serviu de mais aprofundamento e de crescimento quanto às experiências já evidenciadas em sala de aula. Às vezes pensamos que o conceito sexualidade é um “bicho de sete cabeças”, ou seja, “um baú de surpresas”. Talvez as resposta sejam variadas, todavia, o mais importante não são os mistérios, ou os enigmas, o que vale saber, são o que eles revelam e traduzem.
Portanto, por mais que exista uma confusão inesperada de ideias, fazendo que percamos o raciocínio prático. Concluímos que, Moser traça um grande percurso para chegar ao essencial. Elabora todo um aparato de recomendações sem mesmo desconsiderar o princípio originário de seus questionamentos. Nitidamente, o processo pelo qual ele trabalha não é o de apresentar a sexualidade como vilã. Mas, como a protagonista que perpassa todo o gênero humano.









[1] Neste contexto nota-se que a sexualidade humana é o ponto central da história humana, aparecendo na literatura, nas lendas, nas artes, na comunicação e na própria religião. Tomando como ponto de partida o enigma da esfinge do mito grego de Édipo, o autor procura iluminar este mistério através de sete chaves. A chave da intuição contida nos mitos, a das ciências, a da teologia, a da ética, a da experiência da Igreja, a da experiência pastoral e a da surpreendente configuração afetiva das pessoas homossexuais. A sexualidade humana se apresenta como uma questão de vida e de morte. Entretanto, se através das sete chaves as pessoas forem capazes de desvendar seu próprio enigma. Neste caso não existe nada mais constante na história do mundo que a sexualidade. Portanto, as variadas abordagens da sexualidade podem elevá-la a um posto que não a pertença ou diminuí-la de forma que perca sua real importância e significância para o homem (MOSER, Antônio. O enigma da esfinge: a sexualidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001).
[2] Esta lenda parece trabalhar numa pressuposição muito presente nas reflexões éticas atuais: a da ambivalência radical da sexualidade como expressão da ambivalência radical da própria vida humana. Justamente hoje, num mundo onde lendas, mística, ritos, e mitos são, muitas vezes, relegados ao plano do obscurantismo, talvez seja importante resgatar as intuições profundas que podem esconder-se por trás desse mundo hoje talvez considerado como primitivo (MOSER, 2001, p. 17).
[3] Falar na busca de “novos parâmetros” já causa sentimentos de opostos: para alguns, a expressão evoca a esperança de uma Moral que apareça mais parte da Boa Notícia do Evangelho do que como uma espécie de coleção de interditos; para outros, a expressão “novos parâmetros” assusta, pois implicitamente se está sugerindo que os velhos parâmetros já não servem. Diante destes sentimentos contraditórios provocados por uma expressão, convém deixar muito claro que esta e outras expressões semelhantes querem simplesmente caracterizar a dinamicidade da vida e a necessidade humana de ver esta vida com novos olhos (MOSER, 2001, p. 170).
[4] Quanto mais aproximarmos do núcleo de nossas preocupações em relação à integração sexual e afetiva, mais importante se torna ter presente que a luta por tal integração se constitui num processo contínuo e inacabado, para todos (MOSER, 2001, p. 280).
[5] Resolver o enigma converte-se destarte em sinônimo de ‘conhecer-te a ti mesmo’. Esta é a significação do sorriso da Esfinge, simultaneamente misterioso e irônico: nesta vida ninguém jamais conseguirá conhecer-se totalmente (MOSER, 2001, p. 25).
[6] O sorriso enigmático da esfinge, com certeza, nos envia uma mensagem muito clara: “não tentem enquadrar pura e simplesmente todas as pessoas em esquemas pré-fabricados, separadinhos em dois blocos bem distintos, com sentimentos bem delineados. As pessoas homossexuais também são pessoas humanas e encarnam uma face oculta da humanidade (MOSER, 2001, p. 213).
[7] O fenômeno homossexual é também a expressão mais profunda do “vazio” e da “carência” que todo ser humano experimenta diante da sede de um amor infinito que nesta vida só lhe é dado satisfazer em parte (MOSER, 2001, p. 258-259).
[8] A obsessão pelo sexo, como único ou principal caminho da realização humana, faz parte de um esquema cultivado para alienar pessoas e grupos que poderiam representar mudanças estruturais na sociedade (MOSER, 2001, p. 255).

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