Doutrina Social da Igreja

on domingo, 7 de outubro de 2012


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ - PUCPR 
Temas de práxis pastoral – Doutrina Social da Igreja 
Aluno: Luiz Fernando de Lima 
Curso: Mestrado em Teologia 
Professor: Agenor Brighenti 
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Rerum Novarum, a primeira encíclica social 

No final do século XIX a sociedade se viu diante de uma nova realidade que grassava a vida e a forma de ser de todos os cidadãos. Saída do sistema feudal que perdurara por toda a Idade Média a partir do surgimento de uma nova classe, a burguesia, o mundo deparou-se à luz das Revoluções Industrial e Francesa com situações totalmente novas e inquietantes que necessitavam de respostas urgentes. 
Diante da chamada “questão social” que implicava na humanização da força de trabalho a ser empregada nas fábricas, várias reações podem ser contadas como investidas contra os efeitos nefastos do capitalismo há pouco surgido como sistema de governo. Dentre os mais variados movimentos, podem ser encontrados o Socialismo Utópico de Saint Simon, Fourier e Phoudhon que propunha ideais socialistas, o Sindicalismo nascido na Inglaterra nos inícios de 1800 e o Socialismo Científico de Marx e Engels que diferenciou-se do socialismo utópico por acreditar que as mudanças necessárias só se dariam por meio da revolução da luta de classes. No ambiente católico, surgiram também reações ao modo desumano que o trabalho era exercido nas fábricas; de um lado, encontra-se o Assistencialismo que repugna qualquer intervenção por parte da Igreja na questão social e considera a caridade assistencial a melhor forma para diminuir o problema; de outro, há o Catolicismo Social que advoga uma reforma social de tipo estrutural, estando – dessa forma - nas bases da primeira encíclica social.  
Pode-se compreender o que estava acontecendo, de um modo geral, nessa nova sociedade quando se percebe que nela agora há uma mentalidade nova chamada de liberal burguesa, novas possibilidades técnicas advindas de 1789 e recursos econômicos provenientes do lucro acumulado, o capitalismo. 
Quanto à hierarquia eclesial deve-se levar em conta que o Pontífice da época é Leão XIII, um homem para o qual nem tudo da Revolução Industrial era mau e que sabia que na sociedade já estavam arraigadas algumas realidades dificilmente alteráveis como, por exemplo, o proletariado e a perspectiva de uma ação mais social do que política por parte da Igreja. Surge então, a Rerum Novaruma encíclica de Leão XIII que trata sobre a condição dos operários.  
Antes de se falar propriamente do conteúdo da Rerum Novarum, é interessante observar como ela foi recebida em 1891, ano de sua publicação. A recepção não foi unânime uma vez que o Pontífice viu sua encíclica aclamada por uma grande parte dos católicos, tolerada, com reservas e murmurações, por outra, exaltada ou escarnecida, segundo as filosofias, fora do campo católico. Ao lado de tudo isso, apesar de todas as limitações de pensamento e de visão, a Rerum Novarum constitui-se no primeiro pronunciamento oficial do Magistério Católico sobre a questão social. 
Evidentemente, as propostas de Leão XIII devem ser lidas no seu tempo. Alguns temas constituem-se bases de toda a discussão social ao longo da encíclica: a crítica ao socialismo e ao capitalismo liberal, a propriedade privada como sendo de direito natural, a não necessidade de luta entre as classes, a posse e o uso das riquezas e a caridade como solução definitiva para os conflitos sociais. Juntam-se a estes grandes temas o papel da família e do Estado, as obrigações dos operários e dos patrões, a dignidade do trabalho, a “desordem” das greves, o benefício das corporações e associações. 
Partindo do princípio de que a sede de inovações e os progressos incessantes da indústria são fontes da miséria existente, Leão XIII estabelece sua crítica ao socialismo, uma vez que este estimula a desarmonia entre as classes e é utópico também ao pensar numa igualdade entre os cidadãos a partir da supressão da propriedade privada. Essa posição apologética tenta demonstrar que o socialismo não é a melhor forma de solucionar o problema (n. 2). A posição socialista causa muitos males que são elencados ao longo da primeira parte da encíclica: prejudica os próprios operários (n. 3); não é justo suprimir a propriedade privada, pois é para o homem de direito natural (n. 4-9); é contrário aos direitos naturais dos indivíduos, do Estado e ainda perturba a tranquilidade pública (n.9); perturba a harmonia e o perfeito equilíbrio mútuo entre as classes (n. 11). Quanto ao liberalismo, o posicionamento é mais brando, uma vez que ao admitir e defender o direito de propriedade privada e o dever do Estado em protegê-la (n. 23) posiciona-se mais perto deste do que do socialismo. Destoa do liberalismo ao afirmar o direito de associação, ainda que próximo do corporativismo (n. 31-36). 
Sobre a propriedade privada, a Rerum Novarum reconhece ao homem o direito estável e perpétuo de a possuir (n. 5), bem como sua posse é plenamente conforme à natureza (n. 6) e cabe às leis civis e religiosas a protegerem, uma vez que é “justo que o fruto do trabalho pertença ao trabalhador” (n. 7). 
A respeito do conflito entre as classes que para o marxismo era não só necessário, mas inevitável, a encíclica propugna que o “homem deve aceitar com paciência a sua condição”, já que “é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível” (n. 11). Sendo necessárias diversas funções para o funcionamento da vida social, nasce, por conseguinte, a desigualdade das condições que só será sanada no mundo vindouro, onde não existirão estas calamidades (n. 11). Como se vê, para o Pontífice leonino o embate entre as classes não levará a lugar algum uma vez que a felicidade definitiva só será plena no mundo escatológico. Portanto, cabe concórdia e não luta! 
Quanto ao uso e posse das riquezas, diz o Papa que a posse é particular e o uso, universal. “Ninguém certamente é obrigado a aliviar o próximo privando-se do seu necessário ou de sua família”, mas satisfeita a necessidade é um dever dar o supérfluo para os pobres (n.14). Este dever de dar esmola não é de justiça, mas de caridade (n. 11 e 37). 
Como se percebe, as indicações de soluções da Rerum Novarum estão embriagadas dos ideais da cristandade, que aliada aos maiores cobrava resignação dos menores. Os conflitos presentes no final do século XIX não eram advindos só da corrupção dos costumes, mas era fruto de um sistema selvagem que empobreceu os pobres e enriqueceu os ricos, impedindo uma concórdia entre a onipotência na opulência e a fraqueza na indigência. 
Algumas luzes, certamente, também são encontradas nesta primeira encíclica social como a não exclusão de um sindicalismo puro, ainda que não o indique; a preocupação com as mulheres e crianças nas fábricas; um salário que convém ao trabalho realizado; que pobres e ricos são, por direito natural, cidadãos; o papel da família que a encíclica define como sociedade doméstica, “sociedade muito pequena certamente, mas real e anterior a toda a sociedade civil” (n. 8)... 
Diante destas luzes apontadas e dos desafios apresentados, uma angústia ainda se faz presente ao perceber que muitos pontos tocados pela Rerum Novarum continuam gritando por socorro ou apenas foram abordados pela sociedade hodierna de forma paliativa: a família tão bem definida como sociedade doméstica, encontra-se depauperada por iniciativas pouco concordes com a sua promoção como contra valores apresentados em telenovelas, por exemplo; o trabalho infantil que preocupava Leão XIII em 1891 continua uma realidade na sociedade brasileira, sobretudo nas minas de carvão espalhadas por várias regiões deste vasto país; os sindicatos que floresceram durante certo tempo, hoje já não mais exercem com eficácia e eficiência seu papel por se colocarem mais ao lado do capital do que dos trabalhadores; a justa distribuição dos bens querida e desejada pela encíclica social leonina é uma realidade distante uma vez que a posse e o uso das riquezas estão muito longe de atingir o tão desejado equilíbrio; o salário que necessita ser justo ainda continua mínimo... Somente a esperança é que motiva a continuar a caminhada. Quiçá, ela nunca pereça! 
Enfim, a Rerum Novarum, apesar de todos os esforços, representa ainda que timidamente e de forma insipiente o ingresso da Igreja na discussão social. Lançando as bases de um Ensino Social da Igreja, inicia um envolvimento sempre mais crescente da Igreja católica com as questões sociais. 

Antigo Testamento - Profetas

on sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A INDIGNAÇÃO PROFÉTICA DE NAUM: ATUALIDADE DE SUA MENSAGEM

Héliton Ap. RIBEIRO*[1]

No período do rei Davi, Israel praticamente não sofreu dominação, pelo contrário, em meados do século X ampliou seu domínio invadindo Moab, Amon, Edom e a Síria. A partir do reinado de Salmanasar III da Assíria no século IX inicia-se a política imperialista que atinge também o povo judeu, neste período governado pelo rei Manassés. Os impostos, a destituição do rei que ameaçasse revolta ou conspiração, a inserção de outras culturas no seio daquele povo eram políticas assírias que faziam crescer entre os judeus um sentimento de rejeição e o desejo de liberação.
O profeta Naum é contemporâneo do período de maior ingerência assíria, ou seja, o tempo de Nabopolasar (626 a.C). Este profeta fez-se porta voz do sofrimento de seu povo. O profeta festeja a queda de Nívive (capital da Assíria): “O Senhor é um Deus ciumento e vingador! O Senhor é vingador e cheio de furor! O Senhor se vinga de seus adversários” (1,2). O castigo de Nínive (cf. 2,4-14) denuncia seu pecado e revela a influência de Deus no acontecimento (cf. SICRE, 2008, p. 433).
A consolação do povo, em consonância com Isaías 52,7 é garantida: “Eis sobre as montanhas os pés de um mensageiro que a anuncia: Paz” (2,1a). É o começo de uma nova época na qual se espera um Messias (libertador). “Provavelmente o profeta imagina a restauração dos reinos de Judá e Israel e sua reunificação, tendo Jerusalém como capital” (ROSSI, 1998, p. 24).
O capítulo 3 é dramático, revela que Nínive será devastada (versículo 7) e desaparecerá da história por causa de sua maldade. Alguns comentadores acusam Naum de sanguinário, cruel, de desprezar os pagãos e de não considerar os pecados de seu próprio povo. No entanto, lendo com cuidado os escritos deste profeta vislumbraremos algo de muito sério em sua mensagem: “O que para ele está em jogo é a justiça de Deus na história, problema que angustiou os judeus de todos os tempos e continua preocupando os nossos contemporâneos” (SICRE, 2008, p. 433).
Naum enxerga a situação de sua gente da seguinte maneira: “O leão despedaçava para seus filhotes; estrangulava para suas leoas; enchia de presas seus antros, e seus covis de despojos” (2,13). Deus poderá tolerar uma situação assim? Para o profeta a resposta é claramente negativa. A justiça e a fidelidade de Deus não o deixa abandonar seu povo que nele confia.
Por isso, o castigo de Nínive é necessário, o profeta o descreve com o sofrimento de um oprimido, sem “meias-medidas”; embora a profecia revele a profunda angustia de Naum, mostra-nos também que teorizar sobre a opressão é um coisa, mas sofrê-la na pele é bem outra. Descrevendo a queda dos impérios, canta-se o Senhor da história, que faz soar sua hora aos Impérios, a hora da libertação.
A mensagem central do livro em questão é de que nenhum sistema opressor é eterno. Com vistas a uma atualização da profecia de Naum rememoramos denúncia da Conferência de Puebla de que os povos latino-americanos sofrem “uma violência, que se pode chamar institucionalizada em diversos sistemas sociais, políticos e econômicos, quanto pelas ideologias que transformam em meio para a conquista de poder” (DP, 509).
A Igreja tem em sua essência a missão profética de anunciar, denunciar e consolar a humanidade, herdeira do povo de Israel encontrará no profeta Naum um referencial de militância em favor da vida do povo. É necessário considerar que como povo messiânico da Nova Aliança compreendemos o Primeiro Testamento sempre iluminado e plenificado pelo Segundo Testamento, neste Jesus exorta seus discípulos a amar o inimigos e a rezar por eles (cf. Mt 5, 44). A partir daí temos um novo prisma para interpretar Naum.
O Senhor Jesus disse: “Quero misericórdia e não sacrifício” (Mt 9, 13), testemunhou que a única força transformadora capaz de desarmar o mal é o amor. O amor de Deus não fecha nossos olhos à realidade que é claramente injusta, mas muda nosso proceder perante a maldade.
Conservemos a santa indignação de Naum, colaboremos na conscientização dos homens e mulheres sobre os sistemas e ideologias injustas que ceifam vidas ou as desumanizam, sem perdermos a esperança da assistência de Deus e de sua fidelidade às suas promessas. Como bem nos lembrou o bispo profeta Dom Hélder Câmara: “Não pensem que Deus ajuda a miséria. Deus não aprova as injustiças. As injustiças são um problema nosso”.
Por fim, na iminência do período eleitoral acolhamos o apelo do papa Bento XVI em Aparecida: “Não há dúvida de que as condições para estabelecer uma paz verdadeira são a restauração da justiça, da reconciliação e do perdão. Dessa conscientização nasce a vontade de transformar também as estruturas injustas para estabelecer o respeito pela dignidade do homem, criado à imagem e semelhança de Deus... Como tive a ocasião de afirmar, a Igreja não tem como tarefa própria empreender uma batalha política, no entanto, também não pode nem deve ficar à margem da luta pela justiça” (DA, 546).

REFERÊNCIAS:

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução: Gilberto da Silva Gorgulhos (Coord.). 2. imp. rev. São Paulo: Paulus, 2003.

CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (CELAM). Documento da Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. 5. ed. 13 a 31 de maio de 2007. Tradução: Luiz Alexandre Solano Rossi. São Paulo: Paulus, 2008.

CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (CELAM). Documento de Puebla: a Evangelização no presente e no futuro da América Latina. III Conferência Geral do Episcopado Latino Americano. Texto oficial da CNBB. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1983.

ROSSI, Luiz Alexandre Solano. Como ler o livro de Naum: A História pertence a Javé. São Paulo: Paulus, 1998.

SICRE, José Luís. Profetismo em Israel: o profeta, os profetas, a mensagem. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.


* Aluno do quarto ano de teologia no Seminário Divino Mestre, Diocese de Jacarezinho. Texto produzido sob orientação do Prof. de Teologia Bíblica, Pe. Reginaldo Ghergolet.  

Ecumenismo

ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Por: Héliton Aparecido Ribeiro

Estimado irmão (a):

Procurarei apresentar-lhes sinteticamente alguns pontos de vista sobre o ecumenismo e diálogo inter-religioso, temáticas tão importantes quanto urgentes. Temos vários e excelentes motivos para cultivar uma postura ecumênica. O primordial e mais importante: É um pedido do próprio Jesus.  No Evangelho de João ouvimos: Pai, que todos sejam um, para que o mundo creia.  (Jo 17,21) em Mateus: “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos”. Mt 23,8.
O vínculo básico no ecumenismo bem sabemos é o batismo, como nos aponta o Vaticano II, sendo assim, existe uma comunhão real entre os cristãos, embora não plena. O ecumenismo é parte vital da fé católica, é perceber que o Espírito Santo também age nos outros e o papa João Paulo II reconhece verdadeiros exemplos de santidade em outras religiões. 
Vale a pena de início, termos clara a nossa identidade, sem identidade não há ecumenismo, explanarei apenas um ponto no que tange à catolicidade.  Somos chamados de católicos do grego holós porque abertos, acolhedores, para todos, abrangentes, sem fechamentos e redomas, sem sectarismo, sem exclusões. Católico fechado é a própria contradição. É como declarar-se porta ou janela que apenas enfeita, mas nunca se abre. Há mentes católicas que se comportam como as portas daquelas magníficas catedrais das quais se perdeu a chave. Estão lá, mas não tente entrar por elas.  O papa João Paulo II deixou claro na Encíclica Ut Unum sint  : “A Igreja não é uma realidade voltada para si mesma, mas aberta, dinâmica, missionária e ecumênica”. 
Importa apostar numa Igreja que ouça os outros, mas que tenha o que dizer. Vai acerta em tudo? Não vai. Sabe tudo? Não sabe! Mas os outros também não sabem tudo. E com isso não se nega a verdade afirmada no Decreto do Concílio Unitatis Redintegratio, de que Cristo fundou uma única Igreja e que nela há todos os meios de salvação. Isso é fato! A dificuldade está em que a limitação humana não é capaz abarcar toda a verdade, basta ver a dificuldade que se há em testemunhá-la, a verdade no atravessa e nos ultrapassa. O papa João Paulo II fez a seguinte afirmação: “O elemento que decide a comunhão é a verdade, no entanto, a expressão da verdade pode ser multiforme. A renovação das formas de expressão torna-se necessária para transmitir ao homem de hoje a mensagem evangélica no seu significado imutável.
Diante disso, o jeito é dialogar com quem aceita diálogo. Com os demais, se tiver que haver confronto de idéias, que haja! Sem violência e sem armas. Porque nós cremos que esse tempo já passou.
Uma coisa é dialogar quando o outro aceita diálogo, expressar as próprias convicções sem ferir ou ofender quem escuta. Sem sincretismo, porque em termos de fé é preciso haver definições, quando se mistura todas as crenças o que temos não é ecumenismo, mas uma tremenda confusão.
Não se deve ter angústia por encher ou esvaziar os templos, o que às vezes é bonito diante das câmeras é errado diante do projeto litúrgico e evangelizador de toda a Igreja. E se amanhã os templos dos outros se esvaziarem e os nossos se encherem? Se isso acontecer, não será justo gritarmos que vencemos. Não é esse o tipo de vitória que um cristão deve buscar. O que devemos perguntar é se o país está mais justo e mais fraterno.
Por fim, A alma do ecumenismo é a oração, aberta à conversão interior. Unidos em oração percebemos que não é tudo a mesma coisa, há diferenças, mas em Cristo somos muito mais parecidos do que diferentes, que os outros também tem fé, e temos de respeitá-los, mesmo que pensemos e rezemos de maneira distinta.
Antes de iniciarmos a temática do diálogo inter-religioso, cabe uma história: Se conta que um dia foram três pessoas rezar diante de Jesus. Chegou primeiro um católico e pediu que destruísse a todos os protestantes, porque se eles deixassem de existir, os católicos seriam felizes e o serviriam bem. Em segundo lugar chegou um protestante, que suplicou que Jesus destruísse todos os católicos, que pensam que estão com a verdade, porém estão na ignorância. Por último chegou a vez de um judeu, e Jesus lhe disse, que se quisesse poderia pedir-lhe algo. O judeu respondeu que não queria rezar. Então Jesus lhe perguntou o que fazia ali, e o judeu lhe respondeu que estava esperando. O que esperas? lhe perguntou Jesus. O judeu respondeu: Espero que escutes esses dois, e assim eu serei feliz. Isso para percebermos o quanto mal causamos quando estamos divididos.

Agora passamos ao diálogo inter-religioso.  O diálogo inter-religioso parte do mesmo fundamento do ecumenismo, a busca de comunhão, mas neste caso com os não cristãos. Busca-se com essa ação meios de cooperação com vistas ao bem comum, luta pela paz e pela justiça, apoio à família, proteção às minorias entre outras coisas.
Relembramos o pronunciamento do grandíssimo papa Paulo VI na encíclica Eclesiam suam como motivação ao diálogo: “O diálogo não é apenas uma troca de idéias, de algum modo, é sempre um intercambio de dons”. E hoje percebemos que é  imprescindível o diálogo para não morrer, diálogo, não monólogo, sem perda de identidade ou abandono da verdade. Aliás, Dalai Lama, figura ilustre do diálogo tem sempre enfatizado em suas reflexões que a afirmação do valor da própria tradição constitui requisito para melhor reconhecer o valor e a preciosidade das outras tradições religiosas.
O diálogo inter-religioso encontra o seu fundamento principal na convicção da universalidade da graça de Deus. Como indica o documento Diálogo e Anúncio: “afirmar que as outras tradições religiosas contêm elementos da graça não significa, por outro lado, que tudo nelas seja fruto da graça. A diferença deve suscitar não o temor, mas a alegria, pois desvela caminhos e horizontes inusitados para a afirmação e crescimento da identidade. Não há possibilidade de um controle humano sobre a dinâmica da gratuidade do Deus sempre maior, do mistério do “Deus que se dá”. Para fora da estrutura visível da Igreja não existe um vazio eclesial, existe presença e atuação do Espírito de Deus. O processo de inculturação e o diálogo inter-religioso desenvolvem-se com autenticidade quando são fruto da contemplação da Palavra, a qual dá a capacidade de descobrir as sementes do Verbo, a Palavra definitiva do Pai, e, portanto, o único Salvador, que não destrói, mas faz que se complete a preparação evangélica que Deus semeou nas culturas e nas religiões
Se no diálogo inter-religioso diminuem ou até se extinguem as fontes comuns de doutrina, resta ainda uma fonte, a fonte da vida, das causas da dignidade humana, porque a fome, a injustiça e a miséria são ecumênicas, são inter-religiosas. Tem-se falado inúmeras vezes que a paz entre as religiões constitui condição fundamental para a paz no mundo.
O papa Bento XVI a poucos dias pronunciou-se em favor do diálogo, dizendo que “nós somos nas diversidades um povo, com uma história comum, onde cada qual tem o seu lugar”, e uma das metas do diálogo inter-religioso é justamente essa, que todos tenham um lugar digno do ser humano.
O documento conciliar dedicado ao tema do ecumenismo é o decreto Nostra Aetate, nele  percebe-se uma postura positiva quanto às religiões não cristãs, reconhece no budismo e no hinduísmo relampejos da verdade, ressalta a proximidade especial entre o cristianismo e o judaísmo, e favorece o diálogo com o islamismo. Tem-se dado passos consideráveis na busca de unidade com essas grandes religiões, recentemente Bento XVI visitou uma sinagoga, com recepção amistosa dos rabinos; o cardeal Tauran mostra-se sempre atento às datas significativas do Islã enviando mensagens a eles principalmente por ocasião do mês de Ramadã para a promoção dos valores da família.
Há ainda muita estrada a se percorrer, mas há claros sinais de esperança. É preciso coragem para realizar a renovação eclesial, segundo o estilo de São Francisco de Assis, de Teresa de Calcutá e de tantos santos missionários. Os Encontros de Religiões com João Paulo II, em Assis na Itália, em 1986 e 2002, foram antecipações do futuro. Eles não teriam sido possíveis sem o profetismo. Para concluir minha contribuição, faço uso de um pensamento do santo cardeal vietnamita Van Thuan: “Em questões de ecumenismo e de diálogo inter-religioso se entra com muita esperança e se permanece contra toda a esperança”.

Resumo...


CARTA ENCÍCLICA MATER ET MAGISTRA

Evolução da questão social à luz da doutrina Cristã.

“A Igreja Mãe e Mestra gera e educa filhos para uma alta dignidade (...). Apesar de ter como missão principal santificar as almas, não deixa de preocupar-se com sua condição de vida”.
- Comemoramos os 70 anos da encíclica leonina.
1ª Parte: Ensinamento da Encíclica Rerum Novarum e oportunos desenvolvimentos no Magistério de Pio XI e Pio XII
- As condições no tempo de Leão XIII eram inumanas e a Sé Apostólica desceu a arena em favor dos menos favorecidos;
- Pio XI: aparece o termo “direito do trabalho”, reivindica-se a participação dos operários na propriedade (gestão e lucros). Há uma oposição radical entre Cristianismo e marxismo;
- Pio XII: Radiomensagem de Pentecostes (1941). a) o uso dos bens, a disposição de todos; b) o trabalho como direito e dever; c) a família, tendo como espaço vital a propriedade privada.
- Houve muitas mudanças em 20 anos: a) campo científico: energia nuclear (fins de paz e bélicos), modernização (MCS), transportes, acesso interplanetário; b) campo social: seguros, previdências, sindicatos etc; c) campo político: participação, independência política etc.
2ª Parte: Aclarações e ampliações dos Ensinamentos da Rerum Novarum
- O mundo econômico é de criação dos cidadãos, o poder público intervêm para o bem comum (sem dominação);
- A socialização: convivência social é positiva, evite-se o cerceamento da liberdade;
- A remuneração do trabalho: deve ser feito segundo a justiça e equidade. Entristece-nos o contraste entre luxo e miséria;
- Ainda mais hoje (do que com Pio XI) é necessário que os capitais não se acumulem nas mãos dos ricos;
-Bem comum nacional: moderar o teor de vida. Bem comum internacional: colaboração e concorrência leal;
- A pequena e média propriedade deve ser assegurada. Os trabalhadores devem ter acesso aos centros de decisão, o meio para isso é a Educação de Base;
- Propriedade privada: a Igreja a defende com um alto fim ético (...), deve ser acessível a todos.
3ª Parte: Novos aspectos da questão social
-É preciso sanar a desigualdade entre os setores agrícola e industrial, isso pela intervenção do poder público, pelas associações, a complementaridade etc. Os agricultores são protagonistas da própria elevação;
- O objetivo é diminuir a desproporção entre terra e povoamento, pela educação e colaboração;
- Com paternidade universal devo inculcar: “Todos somos solidariamente responsáveis pelas populações subalimentadas”. Destruir e desperdiçar os bens fere a justiça e a humanidade;
- Busque-se a cooperação: científica, técnica e econômica desinteressadamente;
- Os problemas são mundiais, vença-se a desconfiança e reconheça-se Deus como fundamento.
4ª Parte: A Renovação das relações de convivência na Verdade, Justiça e no Amor
- Não haverá justiça, nem paz, enquanto não reconhecermos nossa dignidade de filhos de Deus;
- O ser humano é sujeito, fundamento e fim de todas as instituições;
- A passagem da teoria para a prática da DSI é dificultada pelo egoísmo e materialismo, por não se reconhecer com objetividade as exigências da justiça;
-Devemos impregnar de Cristianismo a ordem temporal (vida sóbria, penitente e mortificada);
- O método a se utilizar é o: Ver, Julgar e Agir
- Não nos percamos em discussões e não deixemos de realizar o bem possível em vista do ótimo.
- A nossa época encontra-se invadida de erros fundamentais, mas se abrem à Igreja imensas possibilidades de fazer o bem;
- Os leigos são membros do Corpo Místico, devem robustecer sua ação cooperando com um Reino de Verdade e Vida, Santidade e Graça, Justiça, Amor e Paz.

Roma, 15 de maio de 1961, JOÃO PP. XXIII
Aluno: Héliton Ap. Ribeiro
22 de setembro de 2011