Ecumenismo

on sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Por: Héliton Aparecido Ribeiro

Estimado irmão (a):

Procurarei apresentar-lhes sinteticamente alguns pontos de vista sobre o ecumenismo e diálogo inter-religioso, temáticas tão importantes quanto urgentes. Temos vários e excelentes motivos para cultivar uma postura ecumênica. O primordial e mais importante: É um pedido do próprio Jesus.  No Evangelho de João ouvimos: Pai, que todos sejam um, para que o mundo creia.  (Jo 17,21) em Mateus: “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos”. Mt 23,8.
O vínculo básico no ecumenismo bem sabemos é o batismo, como nos aponta o Vaticano II, sendo assim, existe uma comunhão real entre os cristãos, embora não plena. O ecumenismo é parte vital da fé católica, é perceber que o Espírito Santo também age nos outros e o papa João Paulo II reconhece verdadeiros exemplos de santidade em outras religiões. 
Vale a pena de início, termos clara a nossa identidade, sem identidade não há ecumenismo, explanarei apenas um ponto no que tange à catolicidade.  Somos chamados de católicos do grego holós porque abertos, acolhedores, para todos, abrangentes, sem fechamentos e redomas, sem sectarismo, sem exclusões. Católico fechado é a própria contradição. É como declarar-se porta ou janela que apenas enfeita, mas nunca se abre. Há mentes católicas que se comportam como as portas daquelas magníficas catedrais das quais se perdeu a chave. Estão lá, mas não tente entrar por elas.  O papa João Paulo II deixou claro na Encíclica Ut Unum sint  : “A Igreja não é uma realidade voltada para si mesma, mas aberta, dinâmica, missionária e ecumênica”. 
Importa apostar numa Igreja que ouça os outros, mas que tenha o que dizer. Vai acerta em tudo? Não vai. Sabe tudo? Não sabe! Mas os outros também não sabem tudo. E com isso não se nega a verdade afirmada no Decreto do Concílio Unitatis Redintegratio, de que Cristo fundou uma única Igreja e que nela há todos os meios de salvação. Isso é fato! A dificuldade está em que a limitação humana não é capaz abarcar toda a verdade, basta ver a dificuldade que se há em testemunhá-la, a verdade no atravessa e nos ultrapassa. O papa João Paulo II fez a seguinte afirmação: “O elemento que decide a comunhão é a verdade, no entanto, a expressão da verdade pode ser multiforme. A renovação das formas de expressão torna-se necessária para transmitir ao homem de hoje a mensagem evangélica no seu significado imutável.
Diante disso, o jeito é dialogar com quem aceita diálogo. Com os demais, se tiver que haver confronto de idéias, que haja! Sem violência e sem armas. Porque nós cremos que esse tempo já passou.
Uma coisa é dialogar quando o outro aceita diálogo, expressar as próprias convicções sem ferir ou ofender quem escuta. Sem sincretismo, porque em termos de fé é preciso haver definições, quando se mistura todas as crenças o que temos não é ecumenismo, mas uma tremenda confusão.
Não se deve ter angústia por encher ou esvaziar os templos, o que às vezes é bonito diante das câmeras é errado diante do projeto litúrgico e evangelizador de toda a Igreja. E se amanhã os templos dos outros se esvaziarem e os nossos se encherem? Se isso acontecer, não será justo gritarmos que vencemos. Não é esse o tipo de vitória que um cristão deve buscar. O que devemos perguntar é se o país está mais justo e mais fraterno.
Por fim, A alma do ecumenismo é a oração, aberta à conversão interior. Unidos em oração percebemos que não é tudo a mesma coisa, há diferenças, mas em Cristo somos muito mais parecidos do que diferentes, que os outros também tem fé, e temos de respeitá-los, mesmo que pensemos e rezemos de maneira distinta.
Antes de iniciarmos a temática do diálogo inter-religioso, cabe uma história: Se conta que um dia foram três pessoas rezar diante de Jesus. Chegou primeiro um católico e pediu que destruísse a todos os protestantes, porque se eles deixassem de existir, os católicos seriam felizes e o serviriam bem. Em segundo lugar chegou um protestante, que suplicou que Jesus destruísse todos os católicos, que pensam que estão com a verdade, porém estão na ignorância. Por último chegou a vez de um judeu, e Jesus lhe disse, que se quisesse poderia pedir-lhe algo. O judeu respondeu que não queria rezar. Então Jesus lhe perguntou o que fazia ali, e o judeu lhe respondeu que estava esperando. O que esperas? lhe perguntou Jesus. O judeu respondeu: Espero que escutes esses dois, e assim eu serei feliz. Isso para percebermos o quanto mal causamos quando estamos divididos.

Agora passamos ao diálogo inter-religioso.  O diálogo inter-religioso parte do mesmo fundamento do ecumenismo, a busca de comunhão, mas neste caso com os não cristãos. Busca-se com essa ação meios de cooperação com vistas ao bem comum, luta pela paz e pela justiça, apoio à família, proteção às minorias entre outras coisas.
Relembramos o pronunciamento do grandíssimo papa Paulo VI na encíclica Eclesiam suam como motivação ao diálogo: “O diálogo não é apenas uma troca de idéias, de algum modo, é sempre um intercambio de dons”. E hoje percebemos que é  imprescindível o diálogo para não morrer, diálogo, não monólogo, sem perda de identidade ou abandono da verdade. Aliás, Dalai Lama, figura ilustre do diálogo tem sempre enfatizado em suas reflexões que a afirmação do valor da própria tradição constitui requisito para melhor reconhecer o valor e a preciosidade das outras tradições religiosas.
O diálogo inter-religioso encontra o seu fundamento principal na convicção da universalidade da graça de Deus. Como indica o documento Diálogo e Anúncio: “afirmar que as outras tradições religiosas contêm elementos da graça não significa, por outro lado, que tudo nelas seja fruto da graça. A diferença deve suscitar não o temor, mas a alegria, pois desvela caminhos e horizontes inusitados para a afirmação e crescimento da identidade. Não há possibilidade de um controle humano sobre a dinâmica da gratuidade do Deus sempre maior, do mistério do “Deus que se dá”. Para fora da estrutura visível da Igreja não existe um vazio eclesial, existe presença e atuação do Espírito de Deus. O processo de inculturação e o diálogo inter-religioso desenvolvem-se com autenticidade quando são fruto da contemplação da Palavra, a qual dá a capacidade de descobrir as sementes do Verbo, a Palavra definitiva do Pai, e, portanto, o único Salvador, que não destrói, mas faz que se complete a preparação evangélica que Deus semeou nas culturas e nas religiões
Se no diálogo inter-religioso diminuem ou até se extinguem as fontes comuns de doutrina, resta ainda uma fonte, a fonte da vida, das causas da dignidade humana, porque a fome, a injustiça e a miséria são ecumênicas, são inter-religiosas. Tem-se falado inúmeras vezes que a paz entre as religiões constitui condição fundamental para a paz no mundo.
O papa Bento XVI a poucos dias pronunciou-se em favor do diálogo, dizendo que “nós somos nas diversidades um povo, com uma história comum, onde cada qual tem o seu lugar”, e uma das metas do diálogo inter-religioso é justamente essa, que todos tenham um lugar digno do ser humano.
O documento conciliar dedicado ao tema do ecumenismo é o decreto Nostra Aetate, nele  percebe-se uma postura positiva quanto às religiões não cristãs, reconhece no budismo e no hinduísmo relampejos da verdade, ressalta a proximidade especial entre o cristianismo e o judaísmo, e favorece o diálogo com o islamismo. Tem-se dado passos consideráveis na busca de unidade com essas grandes religiões, recentemente Bento XVI visitou uma sinagoga, com recepção amistosa dos rabinos; o cardeal Tauran mostra-se sempre atento às datas significativas do Islã enviando mensagens a eles principalmente por ocasião do mês de Ramadã para a promoção dos valores da família.
Há ainda muita estrada a se percorrer, mas há claros sinais de esperança. É preciso coragem para realizar a renovação eclesial, segundo o estilo de São Francisco de Assis, de Teresa de Calcutá e de tantos santos missionários. Os Encontros de Religiões com João Paulo II, em Assis na Itália, em 1986 e 2002, foram antecipações do futuro. Eles não teriam sido possíveis sem o profetismo. Para concluir minha contribuição, faço uso de um pensamento do santo cardeal vietnamita Van Thuan: “Em questões de ecumenismo e de diálogo inter-religioso se entra com muita esperança e se permanece contra toda a esperança”.

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