Mudanças de paradigma na missão

on quinta-feira, 29 de março de 2012


O NOVO PARADIGMA DA MISSÃO NA VISÃO ANTROPOLÓGICA
           
Por: Seminarista Valdinei Gonçalves de Oliveira

O segundo encontro do grupo de estudos sobre missiologia foi conduzido pelo seminarista do primeiro ano de Teologia, Fabio Antunes, com o tema: “O novo paradigma da missão na visão antropológica”, texto de Joaquim Andrade. Os trabalhos foram iniciados com uma breve reflexão sobre o que é antropologia. Em seguida, a ênfase foi acerca da importância de um novo olhar sobre o tema missão e, em conseqüência, sobre a necessidade de um “re-conhecimento” do atual contexto global onde se insere e acontecem os trabalhos missionários.
Pautando-se no texto de Joaquim Andrade, Fabio Antunes citou vários problemas da área missiológica que impedem a concretização efetiva do trabalho missionário; os mais importantes são:

1)     Proliferação de outras religiões no contexto da missão (cristã católica) tais como o budismo, o hinduísmo, o islamismo etc.
2)     O fechamento das religiões latinas em si mesmas, o que dificulta o dialogo entre as diversas denominações religiosas.
3)     A problemática “padres x povo”. Ou seja, muitas vezes os padres (missionários) não são bem aceitos nos trabalhos missionários. Em outras, os próprios missionários são os que não acolhem bem o povo.

Joaquim Andrade define missão como: “ciência da propagação da doutrina de uma religião”. O mesmo buscou explicar de forma pedagógica como foi a invenção da religião. Disse que o primeiro entusiasmo foi com a Natureza, quando o homem tentava se comunicar e conhecer o “totalmente Outro”. Em seguida, abordou o fato da criação da religião. Apontou como principal fator para o surgimento da religião o fator “geográfico”. Ou seja, cada região do mundo primitivo foi capaz de criar uma forma diferente de se comunicar com o “totalmente Outro”. Em algumas regiões os “ver” foi mais importante; em outras os “escutar”. Etc.
            Fabio Antunes em sua apresentação relatou que “a missão não se inicia com o “IDE” dito por Jesus, Mas sim no Antigo Testamento, com a chamado de Abraão, Moisés, Josué…
            Antunes explicou que quando o missionário impõe sua cultura ele deixa de ser missionário e se torna um colonizador. Isso acarreta um modelo semelhante ao realizado pelos primeiros cristãos que vieram para o Brasil. Época em que a Igreja mantinha uma postura missionária agressiva ao impor o catolicismo aos nativos. Com o passar do tempo, muitas críticas surgira contra esse estilo de se fazer missão. Duas mensagens papais procuraram amenizar tal situação: Evangelii Nuntiandi, escrita por Paulo VI em 1975; e a carta encíclica Redemptoris Missio, escrita pelo papa João Paulo II em 1990.
            No que se refere ao novo paradigma da missão, Fabio acrescentou que eles possuem três principais características; a saber:

1) Humildade;
2) Contemplação e
3) Administração.

            O missionário deve ser desapegado (humildade), ver o ambiente onde está inserido e ser sensível ao mesmo (contemplação) e administrar a missão, mantendo a organizada (administração).
            Fabio nos disse que: “O início de toda missão se dá na Trindade”. Por quê? Até o Concílio Vaticano II pregava-se o Eclesiocentrismo, ou seja, a Igreja, os padres e o papa eram o centro da fé cristã. Após o Concílio, passou a ser pregado que o mais importante é o Reinocentrismo, buscando assim levar o Reino de Deus aos povos.
            Terminamos o grupo de pesquisa definindo um novo membro para a próxima explanação e com a seguinte frase: “UMA BOA EVANGELIZAÇÃO É AQUELA QUE COMEÇA POR NÓS MESMOS”.

A MISSÃO NA CIDADE

on terça-feira, 27 de março de 2012

MISSÃO NA CIDADE
             
Por: Seminarista Valdinei Gonçalves de Oliveira

O encontro de hoje foi conduzido pelo seminarista do 4º ano de Filosofia, João Batista de Souza, com o tema: “Missão na Cidade” – Pe. Ari Antônio dos Reis, sdb.
Iniciamos o grupo de estudos com a oração do Missionário e, logo em seguida, o seminarista João Batista passou a falar sobre o que ele achou do texto. Explicou-nos que, de acordo com o texto, a Igrejatem passado por grandes desafios,com a Pastoral Urbana (principalmente tentações, hegemonia, fidelidade). Fidelidade principalmente ao Evangelho de Jesus Cristo e ao que ele resulta em nossas vidas. João continuou falando sobre a Ação Evangelizadora da Igreja e, segundo o autor do artigo, também é um desafio para a Igreja. O autor ainda cita o Documento de Aparecida no que concerne à Ação Pastoral na Cidade. Já abordando temas mais amplos, o autor diz que os discípulos também tiveram dificuldades na missão, tendo um “mandato missionário”.
Ser missionário hoje é anunciar com o desafio de viver esse mesmo Evangelho pregado por Jesus.
João nos mostrou que existem quatro tópicos que foram abordados por Pe. Ari em seu artigo:

1)     SENTIDO DA MISSÃO;

Diz que não podemos ser aquele missionário que sabe tudo, sem perguntar se o outro irá aceitar ou não a oferta que fazemos de anunciar o Evangelho. Não podemos trata-los como “tábulas rasas”, ou seja, pessoas sem informação alguma que se não sabem de nada, não precisam ser salvos. O que vale é a troca de experiências, respeito à cultura. Nós que chegamos ao local da missão é quem somos estranhos a eles. É como se fosse uma pequena fórmula matemática: APRENDER X ENSINAR = ENSINAR X APRENDER
Devemos estar atentos aos interlocutores privilegiados. Armar nossa tenda onde quer que sejamos aceitos.

2)     MISSÃO NA CIDADE;

A cidade também é um espaço de evangelização. Temos que levar em conta que a cidade passa por permanente transformação e que a maioria da população brasileira está na cidade. Por causa disso, essa pluralidade urbana exige dos agentes missionários uma revisão dos métodos e atuação pastoral.
            Com base nisso, podemos elencar oito tópicos acerca da missão:
a)     Modelo de igreja rural no meio urbano
b)     Pretensão da centralidade e hegemonia x ambiente x diversidade
c)      Experiência evangelizadora forte x agente institucional
d)     Relação pastoral x Relação sujeito x objeto
e)     Subestimação dos complexos
f)        Critérios equivocados x Análises urbanas
g)     Ações isoladas x solidariedade x sociedade civil x resposta popular
h)     Despreparo dos agentes x diversidade
A cidade exerce um atrativo na mentalidade dos cristãos que abandonam o meio rural. De acordo com João Batista Libânio: “É a sensação de liberdade, autonomia e individualidade que pesa na decisão de viver na cidade”. Essa influência na personalidade é ilusória, uma proposição contrária da vida do campo. Na cidade, muitas vezes se encontram sem trabalho, acesso à cultura, sem condições de vida digna (moradia, saúde, educação...).

3)     A CULTURA URBANA;
A cultura urbana é um fenômeno que extrapolou seus limites. Ela é mais ampla que a própria cidade ou espaço geográfico.
Isso dificulta ainda mais a missão. Temos que rever a seguinte questão: as pessoas que moram na zona rural já vivem como as pessoas que vivem na cidade, com toda a parafernália tecnológica etc. Isso já faz com que a Torre da Igreja já não seja mais um ponto de referência na cidade, muito menos a praça onde as pessoas se encontravam para conversar. Hoje é tudo virtual, até mesmo dentro de casa.

4)     O AGENTE MISSIONÁRIO;
O agente missionário tem que estar bem preparado. É necessário que se façam algumas perguntas:
  • Como está o planejamento?
  • Como se compreende a missão?
  • Quais os objetivos da missão atuando na cidade?
  • Quais instrumentos levar?
  • O que é prioritário na cidade?
Padre Ari diz que para a Teologia o lugar da Ação Pastoral é tomado em dimensão metodológica e epistemológica. Ele coloca que: “A complexidade da missão urbana ajuda-nos a perdermos a ingenuidade quanto ao sentido da missão. Não somos nós que temos a verdade e nem todos estão ansiosos por ouvi-la”.
A Ação Missionária na cidade deve e pode ter a marca profunda do Evangelho (cf. Jo. 1,1ss).
A cidade é um espaço de esperança, solidariedade, atenção e cuidado com a Vida. Hodiernamente se existe uma necessidade de recuperar-se algo presente que já não existe mais.

“É PRECISO SER LOUCO PELA CAUSA DO REINO” (São Maximiliano Maria Kolbe)






                                                                                             

Indulgências e a Satisfação do penitente

on terça-feira, 20 de março de 2012

As indulgências e a Satisfação do penitente no sacramento da Reconciliação

Quais os reais significados na vida da Igreja e do cristão
Seminarista Rosivaldo Aparecido Lopes Simão
4º Ano de Teologia
Muitas vezes, ouvimos falar de indulgências, até mesmo com significado negativo.
Bom! Primeiramente, devemos saber que, “a doutrina e prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do sacramento da penitência” (CIC 1471, pg. 351). Assim, diante de Deus, o fiel pode obter para si e, também, para as almas do purgatório, o perdão das penas temporais, seqüelas do pecado.
As indulgências se explicam pelo fato de que todo pecado, mesmo que já absolvido, deixa no pecador uma tendência para o mal ou alimenta uma desordem interior. Este desequilíbrio interior deve ser extinto, para que o cristão possa ver Deus face a face na outra vida.
No entanto, no século X originou-se uma instituição que substituiu a prática da penitência tarifada (os penitenciais – códigos que tabelavam as penitências) e das comutações impostas pela Igreja, que livrava o pecador desta tendência ou desequilíbrio interior. Assim, as autoridades eclesiásticas passaram a estipular certas obras de utilidade pública ou de piedade que, se praticadas com grande amor a Deus e repúdio ao pecado, poderiam dispensar o penitente de qualquer outro tipo de satisfação. Estas obras penitenciais a Igreja associa o tesouro dos méritos satisfatórios de Cristo (tesouro do qual a Igreja é a Dispensadora), num gesto de indulgência. Tais obras, portanto, foram chamadas “obras indulgenciadas”, porque enriquecidas de indulgências. Estas podem ser assim, indulgenciadas orações, esmolas, peregrinações, etc.
Contudo, precisa entender que a Igreja nunca vendeu o perdão dos pecados, nem vendeu indulgências. O perdão dos pecados sempre foi pré-requisito para as indulgências.
Existem dois tipos de indulgência: a plenária, que livra de toda a desordem interior, e a parcial, que livra de parte desta. A indulgência parcial pode ser alcançada àquele que recita o terço em particular, do Credo, do Magnificat, do Salmo 50, o ensino ou aprendizado da doutrina cristã, a Comunhão espiritual, a leitura da Sagrada Escritura como alimento espiritual ao menos de meia hora, etc. A plenária pode ser lucrada àquele que adorar o Santíssimo Sacramento durante meia hora pelo menos, recitação do terço na Igreja, oratório, em família, comunidade religiosa ou em uma associação piedosa. Exercício da Via Sacra, perante as estações legitimamente erigidas, etc.
Porém, diante de tudo isso, ninguém pode ganhar indulgências sem que tenha anteriormente confessado as suas faltas e haja recebido o perdão das mesmas, pois, as indulgências não têm em vista apagar os pecados, mas contribuir, mediante a participação de um grande ato de amor, para eliminar as conseqüências ou resquícios do pecado.
Como falamos, antes é necessário confessar seus pecados, reconhecer suas faltas ao sacerdote para ganhar indulgências. E a cada confissão somos convidados a praticar obras satisfatórias, atitudes de expiação ou penitência, como todos conhecem. Porém, sempre nos cai a duvida se existe uma forma de satisfação definida pela Igreja. E mais, se esta penitência imposta pelo sacerdote é obrigatória.
Primeiramente, não há uma forma definida de penitência em que o padre vai com uma lista e escolhe, apesar de que este era o costume da Igreja na Idade Média, chamada penitência tarifada. Ou seja, a formas ou obras de satisfação devem adaptar-se a cada penitente, para que cada um restaure o desequilíbrio do pecado e possa curar-se com o remédio adequado ou satisfação adequada.
Em segundo lugar, a satisfação é obrigatória, conforme nos diz o Código de Direito Canônico (CIC cân 981). Pois, “a verdadeira conversão se completa pela satisfação das culpas, pela mudança de vida e pela reparação do dano causado” (Rito da Penitência, introdução, n. 6, c).


REFERÊNCIAS:

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição típica Vaticana. São Paulo: Loyola, 1997.

CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. 7.ed. São Paulo: Loyola, 2001.

on sábado, 17 de março de 2012

Cartilha de Normas Técnicas do Seminário de Teologia e Filosofia

on quinta-feira, 15 de março de 2012

ENTRE ESSENCIAL E SUPÉRFLUO:  A BUSCA POR UMA SUSTENTABILIDADE RESPONSÁVEL
Alex de Oliveira Nogueira*

            O leitor deste blog deve notar que o contexto atual da sociedade global passa por notáveis mudanças no meio ambiente. A maioria delas é de cunho negativo, pois atentam diretamente ao bem estar do ser humano e de toda biodiversidade existente no planeta. São frequentes as notícias de desastres naturais. A natureza passa por transformações que fissuram a regularidade que lhe era própria. Diante disso tudo, o homem, único ser racional dentro da biosfera terrestre, fica incomodado com o tétrico cenário que se desponta, mas na maioria das vezes continua vivendo da mesma forma. Apenas se incomoda, mas não muda seus hábitos! Pautado nesta realidade, este artigo tem como objetivo refletir sobre as atitudes sustentáveis que o ser humano pode realizar se pautando no essencial. 
            A sociedade de modo geral está inserida num sistema econômico, o capitalismo, que impulsiona o ser humano a consumir. “Consumindo é que nos tornamos gente, pois quem não consome fica fora dessa dinâmica envolvente”, prega o capitalismo. É a este fato que podemos lançar uma das bases para a letargia humana em mudar seus hábitos. Nas escolas, nos meios de comunicação e nas igrejas a conscientização diante do desequilíbrio ambiental é real, e o ser humano acaba incomodado com tudo isso, mas permanece vidrado em seus hábitos consumistas. Desse modo, observemos o que consiste de fato o “consumo”.
            Todo o ecossistema precisa consumir para sobreviver, desde os seres microscópicos, passando pelas maiores criaturas até chegar ao homem. Isto é uma lei natural. O problema está na maneira que se consome para sobreviver. Cada ser que habita a terra tem uma necessidade específica de consumo para que sua sobrevivência seja saudável, chamamos esta necessidade específica de “o essencial”. Quando se inicia um processo de consumo desnecessário, chamamos de “supérfluo”. Aqui está uma das chaves para a questão ambiental. O homem, um ser entre outros, com a diferença específica da racionalidade, acostumou-se, motivado pelo sistema capitalista, a viver sustentado pelo supérfluo.
            Quando a dinâmica de sobrevivência é sustentada pelo supérfluo indo além do essencial, dizemos que faltou sustentabilidade. A sustentabilidade é um conceito onde o homem dá condições para o meio ambiente continuar se sustentando, ou seja, renovando-se e possibilitando vida a todos os seres do ecossistema de maneira perene, para esta e as outras gerações.
O capitalismo e sua forma de consumo supérfluo quebra a sustentabilidade. Portanto, se o homem deseja continuar habitando a terra de maneira saudável e tranquila, deverá incluir em sua conduta diante da sociedade e de si mesmo a realidade da responsabilidade. Uma das pontes de superação ao consumo, não é esperar a mudança global do sistema, mas iniciar no agora de nossas vidas atitudes de consumo responsável, em outras palavras, de consumir o essencial, visando à sustentabilidade do ecossistema terrestre.
Saber de tudo isso e se incomodar com tal realidade, a maioria dos homens já o faz, mas mudar os hábitos responsavelmente, isso é atitude que ainda precisa crescer na vida de toda humanidade, a começar por nós. Por fim, lembremo-nos de nossos avôs e das gerações passadas, viviam com muito pouco, às vezes até privados do essencial, mas conseguiam sobreviver. Recordo aqui um fato particular. Minha avó todo sábado pela manhã ia até a feira da cidade e levava uma sacola grande e reforçada com a estampa de Nossa Senhora Aparecida, e ali trazia as verduras suculentas para a semana toda sem o uso de nenhuma sacola plástica. Hoje as grandes redes de supermercados começam adotar a dita “sacola ecológica”. Isso já não era ideia de nossas avós? Quem diria! As gerações passadas já viviam de maneira sustentável sem mesmo ter a consciência que temos hoje. São nestas iniciativas que encontramos caminhos para um futuro sustentável e responsável, onde o essencial é valorizado e o supérfluo vira supérfluo.



* Estudante do 4° Ano de Teologia do Seminário Divino Mestre – Jacarezinho (PR).

O ministro do Sacramento da Penitência e o penitente

on terça-feira, 13 de março de 2012

OS PADRES SÃO HOMENS COMO NÓS. DE ONDE VEM O PODER DOS SACERDOTES PARA A REMISSÃO DOS PECADOS DOS FIÉIS?

Seminarista Alex de Oliveira Nogueira
4° Ano de Teologia

Toda pessoa que tem fé em Deus pode um dia se deparar com a dúvida, assim como também aquele que não crê está sujeito a duvidar da sua própria convicção incrédula. Sabemos, portanto, que a fé é dom de Deus, que pode ser acolhido pela pessoa humana com generosidade. Ao pairar a dúvida a respeito do poder que o padre tem de perdoar os pecados, pode-se procurar entender melhor a fé que na Igreja Católica se professa. Para tanto, o Catecismo da Igreja Católica (parágrafo 1444) ajuda nesta caminhada: “Conferindo aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor também lhes dá a autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial de sua tarefa exprime-se principalmente na solene palavra de Cristo a Simão Pedro: Eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus (Mt 16,19)”.
       Desse modo, o ato de confessar os pecados ao sacerdote é uma entrega total a misericórdia de Deus que age na pessoa dele. Este, por sua vez foi ordenado por um bispo (sucessor dos apóstolos) e tem, portanto, a assistência do Espírito Santo, da mesma forma que os apóstolos receberam de Jesus: “Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos (Jo 20, 22-23)”. Assim, o sacerdote é instrumento de Deus, e age em nome Dele, mesmo que esteja em estado de pecado. A graça de Deus é maior que as misérias humanas. Deus tem um modo desconcertante de agir, exalta os pequenos, os humildes, por isso usa instrumentos frágeis para demonstrar sua grandeza. Confiemos em Deus e em sua misericórdia que se manifesta no ministro (sacerdote) da confissão.

QUAL O CAMINHO A SER PERCORRIDO PELO PENITENTE PARA QUE A REMISSÃO DOS PECADOS SEJA FRUTUOSA NO SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO?
      
O fiel que deseja frutuosamente viver o sacramento da reconciliação pode percorrer um caminho indicado pela Igreja, fruto da própria organização que o sacramento dispõe. Em primeiro lugar, recomenda-se a contrição, onde existe o arrependimento do ato de pecado, pois o fiel percebe o quanto se afastou do amor de Deus e deseja agora não mais fazê-lo. A contrição deve ser diferenciada da atrição, onde o fiel se arrepende por medo de ser condenado ao inferno na vida eterna. Um segundo passo, é o exame de consciência que leva a análise de como tem sido a vivência junto a Deus, aos irmãos e a si mesmo. Num terceiro momento, tem-se a confissão dos pecados diante do sacerdote, a qual é feita com espírito de humildade e confiança na misericórdia de Deus que cura do pecado e age através do ministro. Em seguida, o sacerdote após fazer breve conselho ministra a absolvição, libertando o fiel da realidade do pecado e dando oportunidade a uma vida nova em Cristo. Por fim, a satisfação é recomendada pelo sacerdote como meio de reparar a ordem que foi lesada pelo pecado e curar o fiel que cometeu tal pecado. A satisfação é como um remédio próprio para cada situação específica. Assim percorrido este caminho (contrição, exame de consciência, confissão dos pecados, absolvição, satisfação) o cristão poderá realizar uma frutuosa e santa confissão de seus pecados. Lembre-se sempre da frase de Santo Agostinho: “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”.

REFERÊNCIAS


CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição Típica Vaticana. São Paulo: Loyola, 1999.


BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução de Gilberto da Silva Gorgulhos (Cord). ed. revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.


BECKHÄUSER, Frei Alberto. Presbiteral. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 98-99.


CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. 4°ed. São Paulo: Loyola, 2001.

A Igreja a serviço da misericórdia

A IGREJA A SERVIÇO DA MISERICÓRDIA

Seminarista Héliton Aparecido Ribeiro
4º Ano de Teologia

É clássica a passagem evangélica na qual Cristo perdoou os pecados do paralítico (cf. Mc 2, 1-12), para com isso revelar que Ele próprio possuía o poder de perdoar pecados.
A afirmação: “Só Deus pode perdoar pecados!” é realmente verdadeira. Ora, a Igreja não existe para outra coisa, do que para prolongar a obra de salvação de Cristo no mundo, e este deseja que ela seja instrumento de perdão (não sua causa eficiente), por isso o Senhor confiou a autoridade de poder absolver ao ministério apostólico, incumbido do ministério da reconciliação (2 Cor 5,18).
Esta autoridade com que a Igreja exerce o ministério da Reconciliação não provêm de si mesma, mas na daquele que a estabeleceu e a enviou (cf. Jo 20, 21-22). As palavras “ligar e desligar”, que aparecem no Evangelho de Mateus 18,18, segundo Karl Rahner significam à guisa da Igreja primitiva, proscrever ou readmitir o pecador à comunidade, o que elucida o caráter eclesial do sacramento da penitência. Assim sendo não há reconciliação sacramental com Deus que não passe pela reconciliação sacramental com a Igreja (cf. RAHNER, 1974, apud ROCHETTA, 1991, p. 349)[1].       
Embora o modo de exercício do sacramento da penitência tenha variado muito ao longo da História da Igreja, os pontos essenciais estiveram sempre presentes desde o período apostólico, a saber: os atos do homem que se converte sob o impulso do Espírito Santo (pela contrição, confissão e satisfação); e a ação de Deus mediada pela Igreja, através do ministério sacerdotal (remissão dos pecados) (CaIC, 1420-1470).
A obra de salvação realiza-se na Igreja que embora santa, é também marcada pelo pecado de seus membros. Ela exerce este ministério, ou seja, este serviço da Reconciliação, não como detentora exclusiva do perdão, mas como serva da Misericórdia, pois a Igreja “não reclama para si nenhuma outra autoridade do que a de servir aos homens, caridosa e fielmente ajudada por Deus” (AG, 12). Por ser um dos sacramentos ordinários para o perdão dos pecados, o sacramento da reconciliação, de modo algum limita a ação redentora de Deus fora dos meios normais proporcionados pelo sacramento.
A Igreja não expulsa de seu meio os pecadores, pois se assim fosse não seria Católica (gr. holós = universal), mas uma seita elitista. Assim sendo, buscar-se-á não uma santidade homogênea, mas uma santidade dialética, de uma Igreja santa que comporta e reconcilia consigo os pecadores (cf. MIRANDA, 1980, p. 40).
 A comunidade cristã quer ser o rosto de Cristo no mundo, que reconciliou os pecadores consigo e ordenou aos cristãos o perdão mútuo, dando a prova maior ao pedir ao Pai o perdão para os seus assassinos (cf. Lc 23,34). Esta passagem emblemática nos deixa a seguinte interrogação: “Se o Pai perdoa os algozes de seu Filho, como deixará de continuar a perdoar os que o rejeitam ainda hoje?”.
A Constituição Dogmática sobre a Igreja professa a seguinte verdade quanto à salvação daqueles que não acreditam no Cristo: “Aqueles, portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e Sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a Sua vontade conhecida através do ditame da consciência, podem conseguir a salvação eterna” (LG, 42).
A Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação entre a Igreja Católica e a Igreja Luterana reza: “Juntos mantemos na fé a convicção de que justificação é a obra de Deus uno e trino (...). A justificação significa que Cristo mesmo é nossa justiça (...). Só pela graça, na fé na obra salvadora de Cristo e não por causa de nenhum mérito de nossa parte, somos aceitos por Deus (...). Todas as pessoas são chamadas por Deus para a salvação em Cristo” (LOSSKY, et al, 2005, p. 684-685).
Por fim, sem desmerecer a adesão pessoal que faz parte do processo salvífico, porém não é seu fundamento último, é possível a Deus salvar o ser humano por meios que só Ele sabe, haja vista que a redenção tem alcance universal pelo fato de Cristo ter morrido por todos os homens (cf. CaiC, 982), prestando assim o máximo serviço de misericórdia em favor do mundo.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução: Gilberto da Silva Gorgulhos (Cord.). 3.imp. rev. São Paulo: Paulus, 2004.


CATECISMO  DA  IGREJA CATÓLICA.  Edição  Típica  Vaticana.   São  Paulo:
Loyola, Canção Nova, 2000.


CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja (21-11-1964). In: Compêndio Vaticano II. 29.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.


_____. CONCÍLIO VATICANO II. Decreto Ad Gentes sobre a Atividade Missionária da Igreja (07-12-1965). In: Compêndio Vaticano II. 29.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.


LOSSY, Nicholas, et al. Dicionário do Movimento Ecumênico. Tradução: Jaime Clasen. Petrópolis: Vozes, 2005.


MIRANDA, Mario de França. Sacramento da Penitência: o perdão de Deus na comunidade eclesial. São Paulo: Loyola, 1980.


ROCHETTA, Carlo. Os Sacramentos da Fé. São Paulo: Paulinas, 1991.



[1] “É importante frisar a palavra ‘sacramental’, que constitui o meio ordinário pelo qual se recebe a graça de Deus, o que não exclui outros modos”.