A Igreja a serviço da misericórdia

on terça-feira, 13 de março de 2012

A IGREJA A SERVIÇO DA MISERICÓRDIA

Seminarista Héliton Aparecido Ribeiro
4º Ano de Teologia

É clássica a passagem evangélica na qual Cristo perdoou os pecados do paralítico (cf. Mc 2, 1-12), para com isso revelar que Ele próprio possuía o poder de perdoar pecados.
A afirmação: “Só Deus pode perdoar pecados!” é realmente verdadeira. Ora, a Igreja não existe para outra coisa, do que para prolongar a obra de salvação de Cristo no mundo, e este deseja que ela seja instrumento de perdão (não sua causa eficiente), por isso o Senhor confiou a autoridade de poder absolver ao ministério apostólico, incumbido do ministério da reconciliação (2 Cor 5,18).
Esta autoridade com que a Igreja exerce o ministério da Reconciliação não provêm de si mesma, mas na daquele que a estabeleceu e a enviou (cf. Jo 20, 21-22). As palavras “ligar e desligar”, que aparecem no Evangelho de Mateus 18,18, segundo Karl Rahner significam à guisa da Igreja primitiva, proscrever ou readmitir o pecador à comunidade, o que elucida o caráter eclesial do sacramento da penitência. Assim sendo não há reconciliação sacramental com Deus que não passe pela reconciliação sacramental com a Igreja (cf. RAHNER, 1974, apud ROCHETTA, 1991, p. 349)[1].       
Embora o modo de exercício do sacramento da penitência tenha variado muito ao longo da História da Igreja, os pontos essenciais estiveram sempre presentes desde o período apostólico, a saber: os atos do homem que se converte sob o impulso do Espírito Santo (pela contrição, confissão e satisfação); e a ação de Deus mediada pela Igreja, através do ministério sacerdotal (remissão dos pecados) (CaIC, 1420-1470).
A obra de salvação realiza-se na Igreja que embora santa, é também marcada pelo pecado de seus membros. Ela exerce este ministério, ou seja, este serviço da Reconciliação, não como detentora exclusiva do perdão, mas como serva da Misericórdia, pois a Igreja “não reclama para si nenhuma outra autoridade do que a de servir aos homens, caridosa e fielmente ajudada por Deus” (AG, 12). Por ser um dos sacramentos ordinários para o perdão dos pecados, o sacramento da reconciliação, de modo algum limita a ação redentora de Deus fora dos meios normais proporcionados pelo sacramento.
A Igreja não expulsa de seu meio os pecadores, pois se assim fosse não seria Católica (gr. holós = universal), mas uma seita elitista. Assim sendo, buscar-se-á não uma santidade homogênea, mas uma santidade dialética, de uma Igreja santa que comporta e reconcilia consigo os pecadores (cf. MIRANDA, 1980, p. 40).
 A comunidade cristã quer ser o rosto de Cristo no mundo, que reconciliou os pecadores consigo e ordenou aos cristãos o perdão mútuo, dando a prova maior ao pedir ao Pai o perdão para os seus assassinos (cf. Lc 23,34). Esta passagem emblemática nos deixa a seguinte interrogação: “Se o Pai perdoa os algozes de seu Filho, como deixará de continuar a perdoar os que o rejeitam ainda hoje?”.
A Constituição Dogmática sobre a Igreja professa a seguinte verdade quanto à salvação daqueles que não acreditam no Cristo: “Aqueles, portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e Sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a Sua vontade conhecida através do ditame da consciência, podem conseguir a salvação eterna” (LG, 42).
A Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação entre a Igreja Católica e a Igreja Luterana reza: “Juntos mantemos na fé a convicção de que justificação é a obra de Deus uno e trino (...). A justificação significa que Cristo mesmo é nossa justiça (...). Só pela graça, na fé na obra salvadora de Cristo e não por causa de nenhum mérito de nossa parte, somos aceitos por Deus (...). Todas as pessoas são chamadas por Deus para a salvação em Cristo” (LOSSKY, et al, 2005, p. 684-685).
Por fim, sem desmerecer a adesão pessoal que faz parte do processo salvífico, porém não é seu fundamento último, é possível a Deus salvar o ser humano por meios que só Ele sabe, haja vista que a redenção tem alcance universal pelo fato de Cristo ter morrido por todos os homens (cf. CaiC, 982), prestando assim o máximo serviço de misericórdia em favor do mundo.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução: Gilberto da Silva Gorgulhos (Cord.). 3.imp. rev. São Paulo: Paulus, 2004.


CATECISMO  DA  IGREJA CATÓLICA.  Edição  Típica  Vaticana.   São  Paulo:
Loyola, Canção Nova, 2000.


CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja (21-11-1964). In: Compêndio Vaticano II. 29.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.


_____. CONCÍLIO VATICANO II. Decreto Ad Gentes sobre a Atividade Missionária da Igreja (07-12-1965). In: Compêndio Vaticano II. 29.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.


LOSSY, Nicholas, et al. Dicionário do Movimento Ecumênico. Tradução: Jaime Clasen. Petrópolis: Vozes, 2005.


MIRANDA, Mario de França. Sacramento da Penitência: o perdão de Deus na comunidade eclesial. São Paulo: Loyola, 1980.


ROCHETTA, Carlo. Os Sacramentos da Fé. São Paulo: Paulinas, 1991.



[1] “É importante frisar a palavra ‘sacramental’, que constitui o meio ordinário pelo qual se recebe a graça de Deus, o que não exclui outros modos”.

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