Doutrina Social da Igreja

on segunda-feira, 11 de março de 2013

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ - PUCPR
Temas de práxis pastoral – Doutrina Social da Igreja
Aluno: Luiz Fernando de Lima
Curso: Mestrado em Teologia
Professor: Agenor Brighenti
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CARITAS IN VERITATE, 40 anos depois da Populorum Progressio

Dezoito anos após a última encíclica de cunho social, a Centesimus Annus de João Paulo II em 1991, veio a público a terceira encíclica de Bento XVI e primeira deste pontífice que versa sobre temas sociais. A Caritas in Veritate é datada de 29 de junho de 2009 e tem como objetivo “prestar homenagem e honrar a memória do grande Pontífice Paulo VI, retomando os seus ensinamentos sobre o desenvolvimento humano integral”, depois de mais de quarenta anos da publicação da Populorum Progressio, que merece ser considerada como “a Rerum Novarum da época contemporânea” (nn. 8).
Caritas in Veritate é, portanto, a primeira e até o momento a única encíclica de Bento XVI versando sobre vários temas socioeconômicos, numa altura em que o mundo, cada vez mais globalizado, foi devastado por uma profunda crise econômica e financeira.
Da economia à cultura, os seis capítulos da encíclica aprofundam as questões do desenvolvimento no contexto social, jurídico, cultural, político e econômico. Na crítica e na análise destas questões sociais, Bento XVI centrou-se na "articulação entre caridade e verdade", que são as "forças principais [para] um autêntico desenvolvimento orientado pela justiça e pelo bem comum". Por refletir principalmente sobre o autêntico desenvolvimento humano, a Caritatis in Veritate baseou-se na encíclica Populorum Progressio (1967), do Papa Paulo VI. Mas, devido às enormes diferenças entre o mundo de 1967 e o de 2009, Bento XVI sentiu a necessidade de abordar a Doutrina Social da Igreja de uma maneira muito diferente daquela que tinha sido apresentada na Populorum Progressio. Mais do que “soluções econômicas”, a CV oferece orientações éticas.
Tendo como tema de fundo o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade, outros temas relevantes são abordados pela CV: o aspecto missionário da doutrina social (nn. 15); o evangelho como elemento fundamental do desenvolvimento (nn. 18); subdesenvolvimento (nn. 19); a desigualdade contrastante entre ricos e pobres (nn. 22); o desemprego, a segurança e a previdência (nn. 25); a interação das culturas (nn. 26); a fome e a reforma agrária (nn. 27); a mortalidade infantil, o aborto e a eutanásia (nn. 28); terrorismo (nn. 29); a fragmentação do saber (nn. 31); novas formas de colonialismo (nn. 33); princípio de gratuidade (nn. 34); os capitais estrangeiros (nn. 40); a superação das fronteiras (nn. 42); a economia ética (nn. 45); a cooperação internacional (nn. 47); o meio ambiente, a monopolização dos recursos naturais, a consciência ecológica (nn. 48-50); a educação e o turismo internacional (nn. 61); as migrações (nn. 62); as organizações sindicais dos trabalhadores (nn. 64); a reforma da ONU (nn. 67); o progresso tecnológico (nn. 69), entre outros temas.
Dentre estes temas alguns merecem especial realce como, por exemplo, a questão da fome que ceifa inúmeras vidas. A CV relembra que sanar a fome é um imperativo ético e que erradicá-la hoje “tornou-se, na era da globalização, também um objetivo a alcançar para preservar a paz e a subsistência da terra” (nn. 27). Sobre o terrorismo e as demais formas de violência que acabam por gerar sofrimento e devastação, a CV orienta que “as violências refreiam o desenvolvimento autêntico e impedem a evolução dos povos para um bem-estar socioeconômico e espiritual maior” (nn. 29).
O tema da globalização permeia a encíclica do papa Ratzinger e sobre ela, a CV relembra que “a globalização a priori não é boa nem má. Será aquilo que as pessoas fizerem dela” (nn. 42). Lembra ainda Bento XVI que diante da globalização se deve adotar uma atitude de protagonista e não de vítima. “A globalização é um fenômeno pluridimensional e polivalente, que exige ser compreendido na diversidade e unidade de todas as suas dimensões, incluindo a teológica. Isto permitirá viver e orientar a globalização da humanidade em termos de relacionamento, comunhão e partilha”. (nn. 42).
Em 1967 a PP já acenava para as desigualdades contrastantes entre os países, sobretudo, do norte e do sul. Quarenta anos depois, a CV alerta para a continuidade dessas desproporções revoltantes e assevera que “cresce a riqueza mundial em termos absolutos, mas aumentam as desigualdades” (nn. 22). Ao acenar para esse contraste, a CV ainda lembra que “não é suficiente progredir do ponto de vista econômico e tecnológico; é preciso que o desenvolvimento seja, antes de mais nada, verdadeiro e integral” (nn. 23).
Sendo a CV a encíclica social mais recente, nem será necessário justificar a atualidade de seus temas. Terrorismos se veem todos os dias, não só de homens bombas, mas fundamentalismos que matam silenciosamente a vida em todas as suas dimensões. A preocupação ecológica desperta para uma necessidade urgente de se aprender a cuidar. O progresso tecnológico acaba por gerar uma nova classe de “analfabetos digitais” que também são os excluídos da última novidade do mercado. O consumismo continua a gerar necessidades desnecessárias e fúteis. A cooperação internacional se dá por meio de novos colonialismos, que agora são financeiros, basta lembrar as dívidas externas e os socorros do FMI. Uma equitativa reforma agrária continua sendo um sonho, entre tantos outros.
Por conseguinte, mais do que um documento puramente social, a CV abarca várias temáticas, que colocam a vida em primeiro lugar. Para Bento XVI, a “questão social tornou-se radicalmente antropológica” (nn. 75), por isso propugna um desenvolvimento que seja humano, que aconteça de modo integral e não fragmentado, e que esteja fundamentado na caridade e na verdade.

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