RESENHA

on domingo, 6 de maio de 2012

RESENHA DO ARTIGO “BIOÉTICA E TEOLOGIA:
DIÁLOGO ENTRE MÍNIMOS E MÁXIMOS”*

Pe. Luiz Fernando de Lima

A interdisciplinaridade e a pluralidade são marcas características da Bioética. Também a teologia não se isenta desse diálogo, uma vez que pode contribuir para uma compreensão mais ampla, que possibilite um horizonte maior de diálogo capaz de colocar a vida humana como valor absoluto em todas as suas etapas e sentidos.
É a partir deste pensamento que o Professor Mário Antônio Sanches apresenta toda a sua argumentação sobre o diálogo entre bioética e teologia. O referido artigo está didaticamente dividido em cinco partes. Na Introdução o autor apresenta as diretrizes por onde encaminhará a discussão deixando claro que a pluralidade quando pensada de forma sadia não se transforma em elemento de fragmentação e muito menos de divisão. Outro ponto abordado é Busca de uma relação entre Bioética e Teologia, que se guia pela constatação de que “é a bioética que está sendo mais impactada pela teologia do que o inverso”. Em seguida, o Prof. Mário Sanches reflete sobre as tensões entre teologia e bioética e o papel do (a) teólogo (a), tensões essas que acabam gerando conflitos entre uma bioética secular e outra confessional, concluindo que o teólogo é aquele que se insere no debate da bioética com uma “mentalidade dialogante e não como juiz do permitido e do proibido”. No ponto sobre Bioética de mínimos e máximos, o autor reporta-se à ideia de uma ética de mínimos e máximos para fazer perceber que essa relação é necessária, mas não pode ser de absorção, pois “os mínimos se alimentam dos máximos; os máximos devem purificar-se a partir dos mínimos”. Por fim, em proposições e perspectivas a conclusão gira em torno da realidade de que uma bioética plena é aquela que consegue promover um verdadeiro diálogo e interação entre uma bioética secular e uma bioética confessional, fruto de uma interdisciplinaridade com a teologia.
O autor deste artigo, Mário Antônio Sanches, é professor Titular da PUCPR. Fez pós-doutorado em Bioética na Cátedra de Bioética da Universidad Pontificia Comillas, em Madrid. É Doutor em Teologia, pela EST/IEPG, de São Leopoldo, RS, com pesquisa - com apoio da Capes - no Instituto Kennedy de Ética na Universidade Georgetown, Washington, DC. É mestre em Antropologia Social, pela UFPR. Atualmente é professor de Teologia Moral e Bioética na PUCPR, Curitiba, onde é diretor do Programa de Pós-Graduação em Teologia e líder do Grupo de Pesquisa Teologia e Bioética.
Em linhas gerais, as ideias que perpassam todo o escrito são as de que a bioética é gerada sempre em um contexto interdisciplinar. A pluralidade não consiste num conflito eminente, mas torna-se um horizonte sadio e enriquecedor. É justamente por conta desta interdisciplinaridade que a teologia, a cristã apresentada pelo autor, também pode dialogar com a bioética; no entanto, essa relação traz a marca da confessionalidade religiosa, mesmo quando a teologia se dá a partir do diálogo inter-religioso, por exemplo.
Outrossim, aparece no texto bem clara a ideia de que a parte ou ramo da teologia que dialoga com a bioética é a teologia moral, uma vez que um número expressivo de teólogos dessa área marcaram a elaboração e a consolidação da bioética. Merece destaque o pensamento de Adela Cortina que defende uma moral laica sem ser laicista. Já Marciano Vidal propugna a ideia de que as duas opções éticas (racional e cristã) não somente não se opõem, mas convergem para uma unidade superior.
É de suma importância também a contraposição de opiniões feita pelo autor entre as visões de Engelhardt Jr e a posição de Javier Sábada. O primeiro rejeita a racionalidade na teologia, ao defender a experiência religiosa como elemento decisivo. Por sua vez, o segundo defende um laicismo excludente que coloca “sob suspeita sistemática o argumento de um crente”, pretendendo excluir decididamente do debate público todo aquele que mantenha o mínimo de convicções religiosas.
Por conseguinte, pode-se dizer que pela profundidade e experiência com que o tema da relação entre bioética e teologia é tratado, este artigo é leitura obrigatória para todo aquele que pretenda se colocar no turbilhão dos debates éticos contemporâneos para perceber que a bioética que nasce do diálogo com a teologia moral é, sem dúvida, confessional. Ao teólogo é mister compreender um pouco mais desse processo de interação entre religião e ética, uma vez que “reduzir a religião à ética é empobrecê-la e reduzir a ética à religião constituiria um gravíssimo problema numa sociedade secular e pluralista como a nossa”.



* SANCHES, M. A. Bioética e teologia – diálogo entre mínimos e máximos. Estudos Teológicos, v. 51, p. 172-185, 2011.


0 comentários:

Postar um comentário