Antigo Testamento - Profetismo

on terça-feira, 17 de abril de 2012


Seminário de Teologia Divino Mestre
Antigo Testamento – Profetismo
Aluno: Edson Mariano da Silva
Série: 4º ano de Teologia
Professor: Pe. Reginaldo Antonio Ghergolet
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OS PROFETAS ORADORES EM ISRAEL

É bastante difícil determinar qual é a real origem do profetismo em Israel, haja vista que esse fenômeno não é exclusividade desse povo. Existiam profetas e adivinhos em quase, ou todas as nações visinhas de Israel. Contudo, estudiosos afirmam que o início do profetismo bíblico tem sua origem no período mosaico. Pois, “Moisés é considerado o maior dos profetas (Nm 12,6-8; Dt 18,18; 34,10)” (FONSATTI, 2002, p. 12). Mas foi somente com a figura de Samuel que os profetas percorreram uma trilha de seis séculos ininterruptos de profecias em Israel.
Segundo Fonsatti (2002, p. 12), o profetismo pode ser dividido em dois períodos:
a) de Moisés (Séc. XIII) até 750 a.C. – Período dos chamados “profetas oradores”;
b) de 750 (Amós) até 450 a.C. (Malaquias) – Período dos “profetas escritores”.
O interesse deste pequeno esquema é debruçar sobre o primeiro período, no qual se encaixam os profetas ditos oradores. Porém, no entender de Harrington (1985, p. 270), “essa distinção é arbitrária e inexata”.

1 Profetas Oradores

Diz-se profetas oradores porque esses profetas não escreveram nada, porém seus nomes são encontrados na Bíblia.
Na Bíblia, a primeira pessoa a receber o título de profeta é Abraão (Gn 20,7). Também Miriam, irmã de Moisés, é chamada profetisa (Ex 15,20). Durante a travessia do deserto, setenta anciãos de Israel são revestidos do espírito profético (Nm 11,16-17.24-29). Porém em nenhum desses casos devemos tomar a palavra profeta no sentido exato do termo (FONSATTI, 2002, p. 12-13).
No tempo dos Juízes encontra-se a profetisa Débora (Jz 4,4); um profeta anônimo (Jz 6,7); além de Samuel e uns grupos proféticos.
Para Sicre (1995, p. 224), no que se refere a profetisa Débora, “em geral, os comentaristas não veem muito claro por que ela recebe este título”.
No início da monarquia, sobressai a figura de Samuel. Ele é, segundo 1Sm 3,  chamado diretamente por Deus e anuncia o castigo à família do sacerdote Eli (cf. FONSATTI, 2002, p.13). No entender de Sicre (1995, p. 224), Samuel aprece na tradição bíblica com traços muito diversos: herói na guerra contra os filisteus, juiz de Israel, vidente em relação às jumentas de Saul. Exerce também funções sacerdotais, oferecendo sacrifícios de comunhão e holocaustos. Outra característica profética de Samuel é sua intervenção na política, ungindo rei Saul. A tradição o faz ungir também Davi,  quando criança (1Sm 16), mas talvez isso careça de fundamento histórico.
Há também o chamado grupo de profetas que são lembrados em 1Sm 10,5-13 e 19,18-24, com a seguinte imagem: vivem em comunidades, presididas as vezes por Samuel (cf. SICRE, 1995, p. 225).

2 Os profetas oradores  no início da monarquia

Com a instituição do sistema monárquico em Israel o profetismo tomou um novo rumo. Portanto, segundo Sicre (1995, p. 226-227), nos séculos que vão desde a instauração da monarquia até Amós, pode-se distinguir três etapas, muito ligadas à atitude que o profeta tem diante do rei.
1) A primeira pode se definir como proximidade física e distanciamento crítico com relação ao monarca. Os representantes mais famosos desta época são Gad e Natã.
a) Gad intervém três vezes na vida de Davi: aconselhando-o a retornar para Judá (1Sm 22,5); acusando-o por ter realizado o censo do país (2Sm 24,11s) e orientando-o para edificar um altar na eira de Areúna (2Sm 24,18ss).
b) Natã é o principal profeta da corte de Davi. Interveio na vida do rei em três momentos decisivos: prometendo a duração eterna da sua dinastia e proibindo-o de construir o Templo (2Sm 7); condenando-o pelo adultério com Betsabéia e pelo assassinato de Urias (2Sm 12) e quando Salomão herdou o trono (1Rs 1,11-48).
Sicre (1995, p. 226), lembra que considerá-los profetas da corte não é acusá-los de servilismo, pois nunca se venderam ao rei. Por isso pde-se definir sua postura como proximidade física e distanciamento crítico.
2) A segunda etapa se caracteriza por uma distância física que se vai alargando sempre mais entre o profeta e o rei, ainda que o profeta só entre em ação em assuntos relacionados com o rei.
Fonsatte (2002, p. 14) faz a seguinte apresentação desse grupo pertencente a segunda etapa:
a) Aías de Silo aparece duas vezes no reinado de Jeroboão I, rei de Israel. Com uma ação simbólica, dividiu o reino de Salomão e deu uma parte a Jeroboão I (1Rs 11,29-39) e depois condenou o rei por sua má conduta (1Rs 14,1-20);
b) Semeias interpretou a divisão do reino de Salomão como sendo vontade de Deus (1Rs 12,21-24);
c) Hanani advertiu Asa, rei de Judá, por sua aliança militar com Ben-Adad, rei da Síria, contra Baasa, rei de Israel (2Cr 16,1-10);
d) Jeú, filho de Hanani, desaprovou Josafá, rei de Judá (2Cr 19,1-3);
e) Miquéias Ben Jemla aparece na vida de Acab, rei de Israel, que se uniu a Josafá, rei de Judá, para lutar contra os sírios (1Rs 22);
f) Jaaziel inspirou Josafá a fazer uma guerra santa contra os moabitas e amonitas (2Cr 20,1-29).
3) A terceira etapa concilia o afastamento progressivo da corte com a aproximação cada vez maior do povo. Os dois principais representantes dessa etapa são Elias e Eliseu (cf. FONSATTI, 2002, p. 14).
Na época de Elias e Eliseu (Séc. X a.C), o movimento profético parece ter sido mais intenso no reinado de Acab. As cidades estavam sendo reconstruídas (1Rs 16,34). Era época de muita riqueza. A política agrária favorecia o latifúndio e a especulação te terras (1Rs 21 – A vinha de Nabot!). A atividade profética é intensa. Além das figuras mais conhecidas como Elias (1Rs17,24), Eliseu (1Rs 19,19), Miquéias e Jemla (1Rs 22,8), há uma série de profetas anônimos (cf. 1Rs 18,4; 20,13.22.28.35-43; 2Rs 2,7). Há muitas confrarias  de profetas e a liderança desse movimento parece estar com Eliseu, sucessor de Elias (cf. CRB, 1994, p. 70). 
a) Elias: foi o maior dos profetas populares. Desenvolveu sua atividade profética no reino de Israel, entre os anos 874-852 a.C., durante os reinados de Acab e Ocozias. Como Moisés, também Elias fugiu para o deserto, recebeu uma manifestação divina no monte Sinai (Horeb), e desapareceu na Transjordânia. Moisés foi o fundador da religião javista, e Elias seu maior defensor contra a idolatria. Sua missão principal foi defender o monoteísmo javista, sobretudo contra o culto do deus Baal. Defendeu o direito da propriedade privada contra o rei Acab, que apossou-se da vinha de Nabot. O ciclo de Elias encontra-se em 1Rs 17 – 19;
b) Eliseu:  foi discípulo e continuador de Elias. Sua história encontra-se em 2Rs 2–8 ; 13,14-21. Os episódios de sua vida estão separados por notícias sobre os reis de Judá e Israel. São muitas histórias de milagres. Alias, Eliseu supera qualquer outro personagem do AT em número de milagres. Outros episódios narram sua intervenção na política, sobretudo a unção de Jeú como rei de Israel (9,1-10).

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução de Gilberto Silva Gorgulhos (Coord.) 3 imp. São Paulo: Paulus, 2004.

CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL (CRB). A leitura profética na história. São Paulo: Loyola, 1994. [Coleção tua Palavra é vida – 3).

FONSATTI, José Carlos. O Profetismo. Petrópolis: Vozes, 2002.

HARRINGTON, Wilfrid John. Chave para a Bíblia: a revelação: a promessa: a realização. Tradução:Josué Xavier; Alexandre Macintyre. São Paulo: Paulus, 1985.

SICRE, José Luís. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução: Wagner de Oliveira Brandão. Petrópolis: Vozes, 1995.


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