Antigo Testamento - Profetismo

on terça-feira, 17 de abril de 2012

Seminário de Teologia Divino Mestre
Antigo Testamento – Profetismo
Aluno: Alex de Oliveira Nogueira
Série: 4º Ano de Teologia
Professor: Pe. Reginaldo Antonio Ghergolet
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O CONTEXTO HISTÓRICO DA MONARQUIA EM ISRAEL COMO
BASE PARA O PROFETISMO
Em Israel a passagem do sistema tribal para a monarquia se deu pela junção de inúmeros motivos, sejam eles internos ou externos. Paralelo ao surgimento e desenvolvimento da monarquia é encontrado a figura do profeta, como homem de Deus e denunciador de injustiças contra o povo. Tal movimento profético teve etapas distintas se considerado sua proximidade com a estrutura monárquica. Para tanto, deve-se esclarecer o contexto histórico que despontou o surgimento da monarquia e consequentemente o movimento profético em Israel.
A monarquia em Israel remonta o ano 1000 a.C. substituindo o sistema tribal. Internamente o contexto do surgimento aponta para os seguintes fatores: 1. As tribos que receberam territórios mais férteis se enriqueceram e se tornaram mais fortes que outras; 2. Desenvolvimento de técnicas agrícolas (uso do boi para puxar o arado, as cisternas para irrigação do solo, introdução de camelos para o transporte no deserto) que possibilitaram o comércio dos excedentes; 3. Com a desigualdade dos recursos entre as tribos, começam a surgir conflitos intertribos e os juízes também devem apaziguar tais realidades; 4. Corrupção dos próprios juízes (ex: os dois filhos de Samuel 1Sm 8,1-3), que motivaram a injustiça, divisão, insegurança e opressão.
O contexto externo do surgimento da monarquia, segundo John Bright (In: VILLAC; SCARDELAI, 2007, p.49), atenta ao fato de que a confederação das tribos israelitas foi colocada em cheque pela agressão dos filisteus. Este povo possuía uma técnica militar apurada e dominava o ferro, assim como também dificultavam o acesso comercial de rotas importantes pelo mar, as quais interessavam aos israelitas. Neste sentido, Israel necessita se organizar política e militarmente para fazer frente aos desafios lançados pelo surgimento do comércio e ataques militares de outros povos.  
Vale ressaltar que dois textos bíblicos (Jz 9,8-15; 1Sm 8,11-17) demonstram que não era intenção dos camponeses pobres que se estabelecesse a monarquia, mas sim dos ricos residentes nas cidades (1Sm 11,5-11). No texto de Juízes uma fábula dirigida aos notáveis de Siquém mostra que o líder da monarquia seria como um espinheiro com intenções de opressão. O texto de 1Samuel revela a vontade contrária de Deus com respeito a monarquia, lembrando a exploração que um rei realiza sobre o povo para manter sua corte.
Mesmo dentro deste contexto de tradições contrárias, surge a monarquia e com ela uma profecia estruturada em Israel. Diz-se “profecia estruturada em Israel”, pois a figura do profeta não é novidade exclusiva deste povo, mas nota característica de outros povos também. Neste sentido, na iminência de um ataque por parte dos amonitas, Saul se desponta como líder, convoca e vence a guerra (1Sm 11,1-11), dando os passos iniciais da monarquia em Israel.

“A diferença entre Saul e os outros líderes carismáticos é que, terminadas as guerras, eles voltam para suas casas (Jz 8,29), o mesmo não aconteceu com Saul, que, após a vitória, foi proclamado rei e permaneceu à frente do povo (1Sm 12,1.2a).” (VILLAC; SCARDELAI, 2007, p.53).
                                                                
Paralelo a Saul existe a presença importante de Samuel, considerado o último dos juízes e também um profeta que chegou a constituir uma escola, na qual, ele mesmo presidia (1Sm 19,20). Saul é legitimado por Samuel, e tido como rei de Israel. Desse modo, no contexto inicial da monarquia, os profetas (anteriores) possuem uma proximidade maior com a monarquia. Segundo Sicre (1995, p. 226-227) os profetas da origem da monarquia até Amós podem ser classificados em três etapas: 1. Os profetas que possuem proximidade física e distanciamento crítico com relação ao monarca (ex. Gad e Natã); 2. Uma segunda etapa em que aumenta gradativamente o distanciamento físico do profeta com o monarca (ex. Aías e Silo); 3. Numa terceira etapa o profeta tem um afastamento progressivo da corte e uma aproximação maior com o povo (ex. Elias).
Assim, conclui-se que o surgimento da monarquia leva os reis progressivamente a ocuparem o lugar de Deus na vida do povo, e um grande número de monarcas acabam por fazer o “mal aos olhos de Deus”. O profeta surge neste contexto de advento e desenvolvimento da monarquia, como aquele homem de Deus que defende a justiça, os pobres e a Lei de Deus. Portanto, os profetas veem o mundo com os olhos de Deus e denunciam as injustiças da monarquia.   

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução de Gilberto da Silva Gorgulhos (Cord). ed. revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 1981.

SICRE, José Luís. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução: Wagner de Oliveira Brandão. Petrópolis: Vozes, 1995.

VILLAC, Sylvia; SCARDELAI, Donizete. Introdução ao Primeiro Testamento: Deus e Israel constroem a história. São Paulo: Paulus, 2007.

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