Doutrina Social da Igreja

on sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ - PUCPR
Temas de práxis pastoral – Doutrina Social da Igreja
Aluno: Luiz Fernando de Lima
Curso: Mestrado em Teologia
Professor: Agenor Brighenti
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OCTOGESIMA ADVENIENS, a Carta Apostólica da Doutrina Social da Igreja

Na segunda metade do século XX a Igreja viveu um momento de renovação como nunca antes em sua história. Foi um verdadeiro pentecostes. Tudo começou com João XXIII e seu espírito de aggiornamento que culminou com o Concílio Vaticano II, que este mesmo papa não pôde ver concluído, tarefa esta levada a cabo pelo seu sucessor, Paulo VI.
A questão social também esteve em pauta nesta renovação. A Gaudium et Spes do Vaticano II aborda algumas temáticas sociais. Em 1967, dois anos após o encerramento do Concílio, Paulo VI escreve sua primeira encíclica social Populorum Progressio, que trata sobre o desenvolvimento dos povos. Quatro anos mais tarde, em 1971, o mesmo Paulo VI faz conhecer sua Carta Apostólica em comemoração aos oitenta anos da Rerum Novarum, a Octogesima Adveniens.
Este documento vem a público num contexto de pluralismo e secularização da sociedade e enorme empobrecimento e marginalização dos povos. Diante disso, a OA convida a uma participação ativa dos católicos no campo político e social. Tratando de ampliar a Doutrina Social da Igreja, este documento diferentemente dos anteriores é dirigido de modo particular ao Cardeal Maurício Roy, então presidente do Conselho dos Leigos e da Comissão Pontifícia “Justiça e Paz”. É a primeira e única vez até a presente data que um documento de cunho social é assinado como Carta Apostólica e não como Encíclica.
Paulo VI inicia a OA mostrando a necessidade de uma justiça maior em um mundo em transformação e, portanto, com necessidades novas. E justamente por causa da pluralidade oriunda dessas transformações, o Papa no nn. 4 afirma: “Perante situações, assim tão diversificadas, torna-se-nos difícil tanto o pronunciar uma palavra única, como o propor uma solução que tenha um valor universal. Mas, isso não é ambição nossa, nem mesmo a nossa missão. É às comunidades cristãs que cabe analisar, com objetividade, a situação própria do seu país e procurar iluminá-la, com a luz das palavras inalteráveis do Evangelho; a elas cumpre, haurir princípios de reflexão, normas para julgar e diretrizes para a ação, na doutrina social da Igreja, tal como ela vem sendo elaborada, no decurso da história, e, especialmente, nesta era industrial...”. Trata-se de subsidiariedade prática.
Os novos problemas presentes hoje na sociedade segundo a OA são muitos e variados. Um deles é a urbanização provocada pelo êxodo das famílias campesinas em direção às cidades, morando em tristes amontoados de subúrbios. Isso deu origem às megalópoles, gerando inúmeras dificuldades: desemprego, mobilidade comprometida, disparidades de todo tipo, consumismo exacerbado. Diante disso, Paulo VI propõe aos cristãos “construir a cidade, lugar de existência dos homens, e das suas comunidades ampliadas, criar novos modos de vizinhança e de relações, descortinar uma aplicação original da justiça social, assumir, enfim, o encargo deste futuro coletivo que se preanuncia difícil é uma tarefa em que os cristãos devem participar...” (nn. 12).
Como temas relevantes abordados por esta Carta Apostólica tem-se a industrialização, os jovens, a mulher às quais se exige estabelecer relações de igualdade nos direitos e respeito pela sua dignidade, os discriminados, os emigrantes, os desempregados, os marginalizados, a importância dos meios de comunicação social e o meio ambiente. Sobre estes dois últimos, o Papa Montini percebe que uma civilização da imagem está se instaurando, bem como está ocorrendo uma exploração inconsiderada da natureza.
Conforme o nn. 22, as duas aspirações fundamentais do ser humano são a igualdade e a participação, oriundas da dignidade e liberdade da pessoa. Tendo isso em vista, a OA propugna respeito aos direitos humanos e à sociedade democrática. Analisando as ideologias e suas ambivalências, o que se encontra é uma valorização não do Socialismo e do Liberalismo, mas dos movimentos históricos deles originados. Quanto às ciências humanas pede-se uma atitude de diálogo e não mais de condenação. O progresso alcançado nos últimos tempos também exige uma orientação ética, uma vez que “a qualidade e a verdade das relações humanas, o grau de participação e de responsabilidade não são menos significativos e importantes para o devir da sociedade do que a quantidade e a variedade dos bens produzidos e consumidos” (nn. 41).
A Doutrina Social apresenta-se, conforme OA, como uma realidade dinâmica, que pede diante da realidade contemplada por Paulo VI uma “maior justiça pelo que se refere à repartição dos bens”, já que “o dever mais importante da justiça é o de permitir a cada país promover o seu próprio desenvolvimento, no sistema de uma cooperação isenta de todo o espírito de domínio, econômico e político” (nn. 43).
A OA convoca todos os cristãos à ação, entendida como lugar de compromisso. Essa ação exige respeito às diferentes opções compatíveis com a fé cristã no trabalho de transformação da sociedade.
Ao iluminar a realidade de agora com as luzes desta Carta Apostólica de Paulo VI nota-se que as cidades incharam ainda mais, não vislumbrando no horizonte uma solução razoável. Os marginalizados ainda estão por aí esperando sua vez. As discriminações, sobretudo as raciais, se fazem presentes até mesmo nos lugares mais populares, como em estádios de futebol, por exemplo. A sociedade da imagem, talvez já seja hoje uma sociedade virtual, pobre de relações humanas e humanizadoras. Os meios de comunicação continuam manipulando...
Enfim, a OA ao partir sua análise da realidade, percebe uma sociedade recheada de pluralismos. Sua luz talvez mais brilhante seja ensinar que a Doutrina Social não pode oferecer soluções com validade universal e por isso, anima as comunidades locais a encontrar soluções concretas para que na sua realidade, a dignidade humana se faça presente em todos os cantos.


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