Doutrina Social

on domingo, 25 de novembro de 2012

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ - PUCPR
Temas de práxis pastoral – Doutrina Social da Igreja
Aluno: Luiz Fernando de Lima
Curso: Mestrado em Teologia
Professor: Agenor Brighenti
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POPULORUM PROGRESSIO, o desenvolvimento é o novo nome da paz

No início da segunda metade do século XX, precisamente nos anos 60, a Igreja viveu um período único em sua história com a realização do Concílio Vaticano II, que foi um revigoramento das forças e um aggiornamento na postura, na doutrina e no jeito de ser Igreja perante o mundo moderno. Pouco tempo depois do começo dos trabalhos conciliares a Igreja perdeu seu grande mentor, o papa João XXIII. Em pleno concílio, Paulo VI toma nas mãos o leme da barca de Pedro e ao concluir esta tarefa conciliar, coloca a Igreja em mares nunca antes navegados, pois se tratava agora dos mares do serviço e do diálogo...
A resposta do concílio aos problemas sociais veio por meio da constituição Gaudium et Spes, promulgada em 08 de dezembro de 1965. No entanto, pareceu a Paulo VI que o tema do desenvolvimento integral dos povos precisava de um esclarecimento e uma concretização maior, o que o Pontífice fez por meio da Encíclica Populorum Progressio, datada de 26 de março de 1967.
O problema do conflito industrial que dera origem à Doutrina Social da Igreja no final do século XIX e que culminou no enfrentamento logo após as duas grandes guerras entre capitalismo e socialismo, agora assume outra dimensão uma vez que não se trata mais de conflito entre os blocos Leste-Oeste, mas de enfrentamento entre Norte-Sul, isto é, entre países ricos desenvolvidos e países pobres subdesenvolvidos.
A PP está dividida em duas grandes partes. A primeira trata do desenvolvimento integral do homem e a segunda versa sobre o desenvolvimento solidário da humanidade. Na introdução já se tem presente que a questão social abrange agora o mundo inteiro e, portanto, a necessidade de promover o desenvolvimento dos povos. No final, esta Encíclica faz um apelo a todas as pessoas para que assumam a causa do desenvolvimento integral; entre essas pessoas às quais se dirige o apelo estão os católicos (nn. 81), os cristãos e fiéis (nn. 82), os homens de boa vontade (nn. 83), homens de Estado (nn. 84) e sábios (nn. 85), para que todos colaborem na solução do urgente problema do desenvolvimento (nn. 86-87).
A encíclica é dedicada, por conseguinte, à cooperação entre os povos e ao problema dos países em desenvolvimento. O texto denuncia o agravamento do desequilíbrio entre países ricos e pobres, critica o neocolonialismo e afirma o direito de todos os povos ao bem-estar. Propõe ainda a criação de um grande Fundo mundial, sustentado por uma parte da verba das despesas militares, para vir em auxílio dos mais deserdados. O texto também critica tanto o 'liberalismo sem freio que conduziu ao "imperialismo internacional do dinheiro", como a coletivização integral e a planificação arbitrária, que priva os homens da liberdade e dos direitos fundamentais da pessoa humana.
Paulo VI, apesar do clima otimista e positivo instaurado pelas inovações conciliares, deu à PP um tom mais de equilíbrio, objetivando concretizar a doutrina da GS. Entre os principais temas propostos neste documento encontram-se: a contribuição da Igreja ao desenvolvimento; a colonização em seus aspectos bons e ruins; o desequilíbrio crescente entre os povos, onde os “ricos gozam de um crescimento rápido, enquanto os pobres se desenvolvem lentamente” (nn. 8); o choque entre as civilizações tradicionais e as novidades trazidas pela civilização industrial (nn. 10); a visão cristã do desenvolvimento (nn. 14-21), onde se fala não só de um crescimento econômico, mas de uma promoção de “todos os homens e do homem todo” (nn. 14); o destino universal dos bens (nn. 22-24); quanto à propriedade se afirma que ela “não constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto” e que seu “direito nunca deve exercer-se em detrimento do bem comum” (nn. 23); a industrialização e a ambivalência do trabalho (nn. 27-28); a alfabetização (nn. 35); a necessidade de um verdadeiro humanismo (nn. 42); a luta contra a fome (nn. 45); a renúncia ao supérfluo, que deve estar a serviço dos pobres (nn. 49); a equidade nas relações comerciais (nn. 56-65); a caridade universal, já que segundo a PP “o mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo” (nn. 66).
Ao partir da prioridade do SER sobre o TER (nn. 12-21), a PP propõe ainda duas diretrizes de ação: a necessidade de uma transformação radical e planejada das economias do Terceiro Mundo (nn. 29.32-33) e uma mudança na forma de proceder dos países industrializados, que deve passar de uma exploração para uma ajuda aos mais pobres (nn. 48-49).
Ao lado da Evangelii Nuntiandi, a Populorum Progressio constitui-se num dos textos mais inspirados do Magistério eclesiástico. Sua temática ainda que apresentada em 1967 continua atual e questionando, bem como iluminando, muitas situações do hoje da história. Basta olhar ao redor para perceber que o desenvolvimento integral e solidário ainda não aconteceu. O colonialismo assume novas roupas como o financiamento de guerras civis para obtenção fácil de petróleo. Continua contrastante o fato de 20% deterem 80% da produção, enquanto 80% detêm apenas os sobrantes 20%. O desenvolvimento do homem todo e todos os homens se transformou no desenvolvimento de uma pequena parcela da população mundial. É gritante a situação onde alguns países brigam entre si para ver quem põe no mercado uma nova tecnologia de ponta, enquanto outros mal sabem o que fazer com os milhões de refugiados que só querem um pouco de pão para matar a fome.
Oxalá, o apelo de Paulo VI na PP encontre ressonância entre os homens de boa vontade, para que, de fato, o “desenvolvimento seja o novo nome da paz” (nn. 76-80).

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