o Ano da Fé
Rogério de Azevedo
2° ano de teologia
O Santo Padre, o Papa
Emérito Bento XVI, no último dia 11 de outubro do ano 2012, realizou
solenemente a abertura do Ano da Fé, conforme proclamara por intermédio da
Carta Apostólica Porta Fidei. O Romano Pontífice Emérito propõe, neste
tempo especial, que a Igreja se abra à experiência renovada na adesão a Jesus
Cristo, Nosso Salvador, reavivando a alegria de nos encontrarmos com Ele, para
que de modo concreto possamos ser transformados pela fé, uma vez que “crer em
Jesus Cristo é o caminho para poder chegar definitivamente à salvação”[1].
Sabe-se que o Ano da
Fé está ligado ao caminho que a Igreja trilhou de modo singular nos últimos
cinquenta anos. O Papa Emérito propõe uma Nova
Evangelização, e a resposta a ser dada a esta necessidade é a mesma
desejada pelos Padres Conciliares, visto que nos últimos anos há uma
desertificação espiritual, a qual facilmente se constata na sociedade hodierna.
Na homilia por ocasião da abertura do Ano da Fé, recorda que:
... no deserto é possível
redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo
de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda
que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E no deserto existe,
sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o
caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança[2].
O Papa Emérito quer
indicar, à Igreja Universal, o mesmo caminho trilhado pelo povo em busca da
Terra Prometida, ou seja, sugere uma peregrinação pelos desertos do mundo
contemporâneo, em que o discípulo de Cristo deve levar apenas o essencial, como
o próprio Senhor exortou aos Apóstolos, ao enviá-los em missão: é necessário,
principalmente, que se leve o evangelho, do qual os documentos do Concílio, bem
como o Catecismo da Igreja Católica, são a expressão luminosa.
Todavia, para que esta
Nova Evangelização não seja somente
um ideal e que não peque por confusão, faz-se necessário que ela se fundamente
sobre uma base concreta que compreende os documentos do Concílio Vaticano II,
nos quais este impulso encontrou a sua personificação. Assim, a insistência do
Papa Emérito Bento XVI acerca da necessidade de retornar, por assim dizer, à
«letra» do Concílio - ou seja, aos seus textos - para também encontrar o seu
verdadeiro espírito; posto que sobre eles reside a verdadeira herança do
Concílio Vaticano II. A referência aos documentos protege-nos dos extremos como
de certos avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade.
No início de seu
governo petrino, o Papa Emérito Bento XVI adotou uma postura demasiado marcante
frente ao Concílio Vaticano II, direcionada ‘por uma Hermenêutica da Continuidade, para com a tradição católica. Em seu
primeiro discurso de final de ano para Cúria Romana ele condenou uma
interpretação do Concílio como ruptura, e isto faz-se impossível em face à
condução da Igreja, dirigida pelo Cristo, e impulsionada pelo Espírito Santo,
cuja mutabilidade e limitação não perpassam. Na tradição da Igreja, isto é, na
transmissão fiel aos ensinamentos contidos no depósito da fé, não cabe nenhum
tipo de acréscimo ou modificação. Há, por outro lado, um alargamento da
compreensão da mesma fé vivida e transmitida no decorrer dos séculos.
Por fim, o Concílio
não excogitou nada de novo em matéria de fé, nem quis substituir aquilo que
existia antes. Pelo contrário, preocupou-se em fazer com que a mesma fé
continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé viva em um mundo em
mudança. Ao vivenciarmos um Ano da Fé somos convocados, enquanto membros vivos
da Igreja de Cristo, a reconhecermos o valor incomensurável de nossa
experiência de fé, cujo ápice se funda e concretiza no encontro com uma Pessoa,
Aquele que por nós verteu Seu Sangue Precioso.
Nessa compreensão de
que não há ruptura ou modificação na fé da Igreja, mas sim uma continuidade e
atualização da experiência dos cristãos contemporâneos, Bento XVI tem
demonstrado sua preocupação por meio de aspectos sobremaneira relevantes para a
vida eclesial, bem como a Liturgia, chamando os cristãos a redescobrirem o seu
valor e verdadeiro espírito. Não se trata de um retrocesso às coisas antigas,
mas compreende um esforço por esclarecer que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem hoje e por toda a eternidade” (Hb 13,
8), e que permanece presente em Sua Igreja, conduzindo-a ao longo dos anos, até
que ela possa enfim completar sua Missão, quando Ele mesmo regressará, com o
escopo de recobrar a todos para Si.
Dessa maneira, imbuídos pelo mesmo espírito
que permeou toda a vida e a história da Igreja, vivamos intensamente esse Ano
de Graça que ela nos propõe, fazendo deste um momento profícuo para o
aprofundamento de nossa fé, de nosso encontro íntimo e pessoal com Cristo e de
nosso comprometimento com Ele. O amplo desafio que se evidencia, portanto, é o
de descobrir na mensagem redentora de Cristo a grande novidade do Amor de Deus,
que se renova e se enraíza constantemente no coração do homem.
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