Os santos: a continuação da encarnação

on terça-feira, 27 de agosto de 2013


SEMINÁRIO DE TEOLOGIA DIVINO MESTRE
Curso: Eclesiologia
Professor: Pe. Antonio Marcos Depizzoli
Aluno: Rogério de Azevedo Silva
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Os santos: a continuação da Encarnação

Os santos manifestam em diversos modos, a presença potente e transformadora do Ressuscitado; eles deixaram que Cristo envolvesse plenamente a vida deles ao ponto de poderem afirmar como São Paulo: ‘Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim’ (Gal 2,20)[1].

A partir da reflexão do Papa Emérito Bento XVI, realizada no dia 13 de abril de 2011, falando acerca da santidade cristã, é possível reconhecer a Igreja na vida dos beatos e santos que de diversos modos buscaram moldar e configurar suas vidas a de Cristo.  É evidente que a Igreja se constitui quando alguns pescadores da Galiléia fazem uma experiência com Jesus, se deixam conquistar pelo seu olhar que atrai e cativa, por seu convite que convida-nos a carregar a cruz sem murmurar.
Como é possível então ao homem compreender toda essa grandeza, de renúncia e seguimento, a ponto de morrer para si e deixar-se plasmar pelo Cristo? O pressuposto básico para tal é a fé. A Constituição Dogmática Lumen Gentium vai afirmar logo no início que a Igreja é um mistério[2], sendo assim, não se pode compreender o que de fato ela realmente é. Um caminho seguro para conhecê-La seria encontrá-La na vida desses homens e mulheres que amaram tanto, buscaram de todas as formas se configurar a Cristo cabeça a ponto de esvaziar-se de tudo o que possuíam para segui-Lo.
Essa santidade a qual todos os seguidores de Cristo são chamados, na busca de viver nessa vida terrena a plenitude da vida cristã e da caridade[3], é necessária para todos, mas ela não se dá de modo automático, ela vai sendo como uma criança gestada, ou como uma semente cultivada que produz frutos[4], claro que cada qual a sua maneira, no modo de entregar-se e de doar-se pelo Cristo.
Assim, o livro dos Atos dos Apóstolos 2,42ss faz-nos perceber como essa semente que cultivada é capaz de gerar muitos frutos, pois a partir do momento que  o cristão faz um encontro pessoal com Jesus, e a partir do encontro com essa mensagem, ele é impelido a  propagar  a mensagem aos outros, a manifestar de um modo visível a presença transformadora do Ressuscitado: “não vos conformeis com este mundo, mas transformai vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”[5].
Toda a vida cristã desse modo se tornará uma grande liturgia, em que o cristão se oferece, doando sua própria vida como um sacrifício agradável a Deus, colocando tudo o que possui a serviço dos irmãos. Considera-se assim, que a vida só encontra o seu sentido pleno quando estamos dispostos a perdê-la, a entregá-la[6]. Essa vida foi-nos dada por Deus como um presente, presente esse que deve ser colocado a serviço dos outros, na entrega, na doação dos mais necessitados, injustiçados, mostrando de tal modo a Igreja que se esconde no rosto de cada irmão sofrido.
Essas dimensões que encontramos nos Atos dos Apóstolos mostram justamente essa clareza de que não há como separar a santidade dos Santos da Palavra de Deus, pois elas estão inseparavelmente unidas. Na vida dos santos vemos a Igreja viva, no fato de Cristo viver nesses homens e mulheres, os quais são a continuação da Encarnação[7].  Neste sentido a exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini, do Papa Emérito Bento XVI, ressalta que:
A interpretação da Sagrada Escritura ficaria incompleta se não se ouvisse também quem viveu verdadeiramente a Palavra de Deus, ou seja, os Santos. De fato, ‘viva lectio est vita bonorum’. Realmente a interpretação mais profunda da Escritura provém precisamente daqueles que se deixaram plasmar pela Palavra de Deus, através da sua escuta, leitura e meditação assídua [8].

Interessante é identificar que a Igreja de Cristo vai se revelando na vida de homens e mulheres que se deixam conduzir pela Palavra de Deus, fazendo com que a santidade se espalhe por toda a terra, pois o mesmo Espírito que inspirou os autores sagrados também impulsiona e encoraja os Santos a darem a vida pelo evangelho, notando assim, que muitos levaram suas vidas até as últimas consequências, aceitando livremente “a morte pela salvação do mundo”[9]. Assim, a vida dos Santos constitui “um caminho seguro para efetuar uma hermenêutica vida e eficaz da Palavra de Deus” [10].
Portanto, a santidade não é algo distante de nós, mas ao contrário, se todos são chamados à santidade[11] é porque ela está ao alcance de todos, ou seja, faz parte da normalidade da vida cristã. Muitos homens e mulheres próximos a nós alcançaram esse objetivo, exemplo disso são os santos e beatos brasileiros: por exemplo, Beata Albertina Berkenbrock, que lutando pela castidade, resistiu pela sua pureza, sendo fiel, fugindo do pecado, ofertando sua vida como sacrifício agradável a Deus; Beata Lindalva que imitou o Cristo na virgindade e fidelidade; Beato Padre Mariano que buscou servir, pois encontrava no serviço uma alegria e um meio de santificação; a Beata Bárbara que por meio dos conselhos evangélicos da castidade, pobreza e obediência, robusteceu-se para progredir na caridade; a Beata Dulce dos Pobres que enxergava nos rostos dos irmãos o Cristo; a Beata Nhá Chica que se desapegou de todas as riquezas para viver a pobreza evangélica; Santa Madre Paulina que mesmo nas perseguições soube sofrer por amor a Cristo; e por fim, Santo Antonio de Sant’Ana, buscando como pastor ser imagem de Cristo, a fim de se tornar para os fiéis um meio de santificação.
Sendo assim, em todos os cantos do mundo de Oriente a Ocidente, do norte ao sul, de todas as idades, raças, línguas, países e culturas, nos deparamos com o nome de tantos homens e mulheres que manifestaram a presença transformadora de Jesus no mundo. Destarte, somos impelidos a almejar pela santidade, seja no martírio, ou em nossa entrega diária como fizeram muitos de nossos santos e beatos. Enfim, todos são chamados a serem testemunhas de Jesus, a fim de que possamos afirmar como o Apóstolo dos Gentios: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim[12]”.


[1] Papa Bento XVI, Catequese sobre a santidade cristã.
[2] Lumen Gentium, cap. I.
[3] Lumen Gentium, n. 40.
[4] Jo 12, 24.
[5] Rm 12, 2.
[6] Lc 9, 24.
[7] Gl 2, 20.
[8] Verbum Domini, p. 93-94.
[9] Lumen Gentium, n.42.
[10] Verbum Domini, p. 97.
[11] Lumen Gentium. n.40.
[12] Gl 2, 20.

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