SEMINÁRIO DE TEOLOGIA DIVINO MESTRE
Curso: Eclesiologia
Professor: Pe. Antonio Marcos Depizzoli
Aluno: Rogério de Azevedo Silva
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Os santos: a continuação da Encarnação
Os
santos manifestam em diversos modos, a presença potente e transformadora do
Ressuscitado; eles deixaram que Cristo envolvesse plenamente a vida deles ao
ponto de poderem afirmar como São Paulo: ‘Não sou eu que vivo, é Cristo que
vive em mim’ (Gal 2,20)[1].
A
partir da reflexão do Papa Emérito Bento XVI, realizada no dia 13 de abril de
2011, falando acerca da santidade cristã, é possível reconhecer a Igreja na
vida dos beatos e santos que de diversos modos buscaram moldar e configurar
suas vidas a de Cristo. É evidente que a
Igreja se constitui quando alguns pescadores da Galiléia fazem uma experiência
com Jesus, se deixam conquistar pelo seu olhar que atrai e cativa, por seu
convite que convida-nos a carregar a cruz sem murmurar.
Como
é possível então ao homem compreender toda essa grandeza, de renúncia e
seguimento, a ponto de morrer para si e deixar-se plasmar pelo Cristo? O
pressuposto básico para tal é a fé. A Constituição Dogmática Lumen Gentium vai afirmar logo no início
que a Igreja é um mistério[2],
sendo assim, não se pode compreender o que de fato ela realmente é. Um caminho
seguro para conhecê-La seria encontrá-La na vida desses homens e mulheres que
amaram tanto, buscaram de todas as formas se configurar a Cristo cabeça a ponto
de esvaziar-se de tudo o que possuíam para segui-Lo.
Essa
santidade a qual todos os seguidores de Cristo são chamados, na busca de viver
nessa vida terrena a plenitude da vida cristã e da caridade[3],
é necessária para todos, mas ela não se dá de modo automático, ela vai sendo
como uma criança gestada, ou como uma semente cultivada que produz frutos[4],
claro que cada qual a sua maneira, no modo de entregar-se e de doar-se pelo
Cristo.
Assim,
o livro dos Atos dos Apóstolos 2,42ss faz-nos perceber como essa semente que
cultivada é capaz de gerar muitos frutos, pois a partir do momento que o cristão faz um encontro pessoal com Jesus, e
a partir do encontro com essa mensagem, ele é impelido a propagar a mensagem aos outros, a manifestar de um modo
visível a presença transformadora do Ressuscitado: “não vos conformeis com este
mundo, mas transformai vossa maneira de pensar e julgar, para que possais
distinguir o que é vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o
que é perfeito”[5].
Toda
a vida cristã desse modo se tornará uma grande liturgia, em que o cristão se
oferece, doando sua própria vida como um sacrifício agradável a Deus, colocando
tudo o que possui a serviço dos irmãos. Considera-se assim, que a vida só encontra
o seu sentido pleno quando estamos dispostos a perdê-la, a entregá-la[6].
Essa vida foi-nos dada por Deus como um presente, presente esse que deve ser
colocado a serviço dos outros, na entrega, na doação dos mais necessitados,
injustiçados, mostrando de tal modo a Igreja que se esconde no rosto de cada
irmão sofrido.
Essas
dimensões que encontramos nos Atos dos Apóstolos mostram justamente essa
clareza de que não há como separar a santidade dos Santos da Palavra de Deus,
pois elas estão inseparavelmente unidas. Na vida dos santos vemos a Igreja
viva, no fato de Cristo viver nesses homens e mulheres, os quais são a
continuação da Encarnação[7]. Neste sentido a exortação Apostólica
Pós-Sinodal Verbum Domini, do Papa
Emérito Bento XVI, ressalta que:
A interpretação da Sagrada Escritura ficaria incompleta se não se
ouvisse também quem viveu verdadeiramente a Palavra de Deus, ou seja, os
Santos. De fato, ‘viva lectio est vita
bonorum’. Realmente a interpretação mais profunda da Escritura provém
precisamente daqueles que se deixaram plasmar pela Palavra de Deus, através da
sua escuta, leitura e meditação assídua [8].
Interessante
é identificar que a Igreja de Cristo vai se revelando na vida de homens e
mulheres que se deixam conduzir pela Palavra de Deus, fazendo com que a
santidade se espalhe por toda a terra, pois o mesmo Espírito que inspirou os
autores sagrados também impulsiona e encoraja os Santos a darem a vida pelo
evangelho, notando assim, que muitos levaram suas vidas até as últimas
consequências, aceitando livremente “a morte pela salvação do mundo”[9].
Assim, a vida dos Santos constitui “um caminho seguro para efetuar uma
hermenêutica vida e eficaz da Palavra de Deus” [10].
Portanto, a santidade não é algo distante
de nós, mas ao contrário, se todos são chamados à santidade[11]
é porque ela está ao alcance de todos, ou seja, faz parte da normalidade da
vida cristã. Muitos homens e mulheres próximos a nós alcançaram esse objetivo,
exemplo disso são os santos e beatos brasileiros: por exemplo, Beata Albertina
Berkenbrock, que lutando pela castidade, resistiu pela sua pureza, sendo fiel,
fugindo do pecado, ofertando sua vida como sacrifício agradável a Deus; Beata
Lindalva que imitou o Cristo na virgindade e fidelidade; Beato Padre Mariano
que buscou servir, pois encontrava no serviço uma alegria e um meio de
santificação; a Beata Bárbara que por meio dos conselhos evangélicos da
castidade, pobreza e obediência, robusteceu-se para progredir na caridade; a
Beata Dulce dos Pobres que enxergava nos rostos dos irmãos o Cristo; a Beata
Nhá Chica que se desapegou de todas as riquezas para viver a pobreza
evangélica; Santa Madre Paulina que mesmo nas perseguições soube sofrer por
amor a Cristo; e por fim, Santo Antonio de Sant’Ana, buscando como pastor ser
imagem de Cristo, a fim de se tornar para os fiéis um meio de santificação.
Sendo assim, em todos os cantos do mundo
de Oriente a Ocidente, do norte ao sul, de todas as idades, raças, línguas,
países e culturas, nos deparamos com o nome de tantos homens e mulheres que
manifestaram a presença transformadora de Jesus no mundo. Destarte, somos
impelidos a almejar pela santidade, seja no martírio, ou em nossa entrega
diária como fizeram muitos de nossos santos e beatos. Enfim, todos são chamados
a serem testemunhas de Jesus, a fim de que possamos afirmar como o Apóstolo dos
Gentios: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim[12]”.
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