A Igreja: elementos originário e de identificação

on quarta-feira, 28 de agosto de 2013


SEMINÁRIO DE TEOLOGIA DIVINO MESTRE
Prof. Pe. Antonio Marcos Depizzoli
Acadêmico: Fábio Antunes. 2° ano de teologia



A Igreja:
Elementos originários e de identificação



“Somos a Igreja do Pão, do pão repartido e do abraço e da paz”

(Pe. Zezinho, Scj).


A Igreja, muito mais do que uma estrutura, é um jeito de ser e estar no mundo. Trata-se, muito especialmente, de uma configuração do coração do homem ao Coração de Deus, que se revela no Coração Jesus.
Recordando as palavras do Apóstolo Paulo, a Constituição Dogmática Lumen Gentium nos ensina: “A todos os eleitos, o Pai, desde a eternidade, conheceu e predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho [...] Assim estabeleceu congregar na Santa Igreja os que crêem em Cristo” (cf. LG. 2).
Temos, portanto, de início, uma premissa fundamental: a Igreja nasce do desejo de Deus. O seu elemento originário por excelência é o desejo amoroso de Deus em congregar os homens numa mesma fé, tendo em vista a salvação de todo gênero humano (cf. LG. 2).
O que é preciso reconhecer e ressaltar, no entanto, é o fato de que não se trata de uma fé qualquer. E sim a fé na pessoa de Jesus Cristo. O Deus feito Homem e entre os homens. É por meio desta fé que a Igreja, que foi “prefigurada desde a origem do mundo”, torna-se claramente manifesta e passa a desenvolver-se continuamente através do tempo e da história, sendo impulsionada cada vez mais pelo Sopro do Espírito.
Podemos nos perguntar, todavia: quando especificamente se inicia o processo de configuração do nosso coração ao Coração de Deus? A resposta a esta questão iremos encontrar muito facilmente nos inúmeros documentos emanados ao longo dos anos pelo Magistério da Igreja. No atual Catecismo da Igreja Católica, por exemplo, podemos ler: “pelo Batismo somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, e somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão” (nn. 1213). Um pouco mais adiante encontramos ainda: “incorporado em Cristo pelo Batismo, o batizado é configurado a Cristo” (nn. 1272). De forma idêntica, na Lumen Gentium, também encontramos: “pelo Batismo configuramo-nos com Cristo” (nn. 7).
O batismo é, portanto, o ponto de partida para a vida com Cristo e em sua Igreja. Os batizados, espalhados por todo o mundo, operam configurados à Cristo e são chamados, a todo instante, a se aperfeiçoarem neste processo que se inicia solenemente no dia em que recebem o santo Batismo. Podemos dizer então, em síntese, que a Fé nos leva ao Batismo e que o Batismo nos configura a Cristo e nos torna membros de sua Igreja.
 Os primeiros a terem os seus corações configurados ao Coração de Jesus foram os “Apóstolos” que com Ele conviveram, e, depois, todos os outros que abraçaram a sua proposta de seguimento. Os doze, de modo mais especial, nos legaram os grandes alicerces para a vida cristã e, conseqüentemente, para a vida da Igreja de Cristo como um todo. Anunciando o Cristo Ressuscitado nos transmitiram o Kerigma. Mostraram-nos que a Ressurreição de Cristo é perene e que nos alcança em nossos dias, nos comprometendo com o bem e, sobretudo, com a construção do Reinado de Deus aqui mesmo entre nós. Conformando suas vidas ao coração e à Palavra do Mestre, ensinaram-nos ainda a “Koinonia” e a “Liturgia”, a vida segundo o Coração de Jesus e seu Evangelho. Vida de fraternidade, de solidariedade, de espiritualidade e de Paz com todos e entre todos. Por fim, no serviço aos mais necessitados, aos pequenos do Reino, nos deixaram a grande lição da “Diakonia”. Com ela, apontaram-nos o caminho que devemos seguir para estarmos, definitivamente, com Aquele que nos chamou à Vida.
Contudo, não podemos nos esquecer da vida e do exemplo dos grandes santos, beatos e mártires que a história já pôde conhecer até aos dias de hoje. Homens e mulheres que, de forma radical, configuraram suas vidas ao Coração de Jesus e que “lavaram suas vestes e alvejaram-na no sangue do Cordeiro” (cf. Ap 7, 14), tornando-se para nós, na atualidade, verdadeiros “ícones de santidade”. Através de cada um deles, podemos ver o que melhor identifica a Igreja de Jesus Cristo. E também, o que melhor nos ajuda a unirmo-nos a ela.
Mulheres como Lindalva de Oliveira, Dulce dos Pobres, Madre Paulina, Nhá Chica, Bárbara Maix, Teresa de Calcutá, a jovem Albertina Berkenbrock e homens como Antonio de Sant’Ana Galvão,  Mariano de La Mata e tantos outros, nos ensinaram, com seus exemplos, que a vida com Cristo é possível. E que a configuração ao seu Coração nos faz Igreja, uma porção santa que crendo firmemente na “comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna”, é constantemente chamada à vida de santidade.
É também por intermédio direto de cada um deles que aprendemos a ser verdadeiramente a Igreja de Cristo que “cresce visivelmente no mundo” (cf. LG. 3), A Igreja do Pão, do pão partilhado e do abraço e da Paz. São, pois, elementos que, dentre tantas coisas, também identificam a Igreja de Cristo: o Pão, a Partilha, o Abraço e a Paz. Os santos, os beatos, os cristãos bem aventurados e os mártires, todos juntos, nos revelam essa verdade.
Sabemos que nossa fé se funda numa Pessoa Viva: o senhor Jesus Cristo. Ele que é o “Pão da Vida” (cf. Jo 6, 35). A cada Santa Missa, o próprio Jesus nos convida à comunhão com Ele. Aproximando-nos de seu santo Altar, comungamos o Pão Eucarístico que é o próprio Jesus. Por isso somos a Igreja do “Pão”. Mas somos também a Igreja do pão que é o alimento de nossas mesas. Comungando o Pão Eucarístico, somos todos inseridos na dinâmica cristã da partilha do alimento. Somos chamados a partilhar o “pão nosso de cada dia”.
Somos também a igreja do Abraço. A Igreja que acolhe junto si todos aqueles que ouviram o chamado de Jesus: “vinde a mim vós todos que estais cansados e Eu vos darei repouso” (cf. Mt 11, 28). Uma igreja que reúne os seus filhos dispersos pelo mundo inteiro, que cria laços entre eles, que promove a reconciliação, que sustenta e que está sempre ao lado de cada um, como verdadeira Mãe que quer ter entre seus braços o filho que tanto ama.
Não obstante a tudo isso, somos ainda a Igreja da Paz. Uma Igreja promotora da Paz em todos os âmbitos da vida e da família humana. Foi o próprio Jesus quem ofereceu-nos sua Paz (Jo 14, 27). Uma Paz diferente daquela que é postulada pelo mundo. Sem falsidade e sem ambigüidades. Uma Paz que promove o bem entre os homens e faz com que todos convivam em harmonia segundo o desejo e o coração de Deus.
Enfim, o mais interessante é perceber que tudo isso não é fruto de uma regra ou de uma lei apenas, mas que brota da própria dinâmica de vida de quem configurou seu coração ao coração de Deus revelado no coração de Cristo. Grandes testemunhas são os homens e as mulheres que, de forma exemplar, souberam viver a fé, a esperança e a caridade.

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